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É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Descrição de chapéu Futebol Internacional

Oferta por Mbappé mostra plano saudita de normalizar a barbárie

Reino brutal de MbS na Arábia Saudita decide ir às compras no shopping center da hipocrisia ocidental

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Quem está de queixo caído com a oferta de R$ 1,5 bilhão para Kylian Mbappé emigrar do país que cunhou o lema "liberdade, igualdade, fraternidade" no século das luzes para as trevas do país que assassinou em 2018 o colunista do Washington Post Jamal Khashoggi e bateu recorde de execuções em 2022 não está prestando muita atenção ao reino do sádico príncipe homicida Mohammed bin Salman.

Um corpo esquartejado, ainda que não fotografado antes de ser jogado no lixo, daria dor de cabeça a qualquer marqueteiro de ditador. Se o corpo é de um jornalista proeminente, um que se considerava interlocutor do regime e, por isso, sentia-se seguro, o preço é mais alto? A resposta é um sonoro não.

O atacante francês do Paris Saint-Germain Kylian Mbappé - Anne-Christine Poujoulat - 13.mar.23/AFP

O príncipe, conhecido pelo apelido carinhoso de MbS, é o arquiteto do projeto Visão 2030, no qual tortura e assassinatos são inconveniências para atingir a meta de diversificar a economia e a dependência de combustíveis fósseis do segundo maior produtor mundial de petróleo.

Por falar em arquitetos, uma busca por nomes de "starchitects" —os arquitetos-estrelas que ganharam o apelido após o sucesso do exibicionista Frank Gehry— revela que não há dinheiro ensanguentado que afaste grandes nomes da turma do Neom, o projeto de meio trilhão de dólares para criar uma cidade do nada na península saudita.

Quem frequentou a Bienal de Veneza neste ano ouviu alguns iluminados regurgitarem loas à beleza, à reinvenção e à justiça de cidades planejadas sob o controle férreo da dinastia saudita. O arquiteto britânico Norman Foster parece solitário na decisão de se afastar do Neom após a execução e o esquartejamento de Khashoggi.

Para entender melhor a facilidade com que a Arábia Saudita seduz e coopta protagonistas em negócios, esportes e artes em democracias ocidentais, gente que se declara progressista da gema nas reuniões de seus condomínios milionários, um livro recém-lançado pode ser útil.

"Crack-Up Capitalism: Market Radicals and the Dream of a World Without Democracy" (capitalismo anárquico: radicais do mercado e o sonho de um mundo sem democracia), de Quinn Slobodian, explica a argumentação de empresas como Uber, DoorDash e Instacart, ícones da "gig economy", decididas a destruir conquistas trabalhistas com fervor feudal.

Sociopatas como Elon Musk e Mark Zuckerberg vibram com o enfraquecimento de nações-Estados que atrapalham seus projetos de dominação autocrática e pilhagem da vida privada. O tecnofeudalismo não é uma fantasia conspiratória. É o resultado de uma transformação tecnológica que contou com a nossa participação. Entra em cena um reino brutal como a Arábia Saudita, transbordando dinheiro vivo, que decide ir às compras no shopping center da hipocrisia ocidental.

Enquanto contemplamos o planeta dominado pela inevitável superpotência da ditadura que é a China, é importante prestar atenção à influência que o príncipe esquartejador de Riad pode comprar.

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