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É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Descrição de chapéu Eleições nos EUA

Apoio a Donald Trump rasga fantasia progressista do Vale do Silício

Bilionários da indústria tech têm alergia a impostos e nutrem desprezo pelo papel de governos em sociedades democráticas

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Uma consequência comum nos governos de dois presidentes golpistas —o capitão carioca e o empresário nova-iorquino— é o racha entre famílias e comunidades. Esta coluna tem um missivista que narra, há anos, em emails dolorosos, o extremismo que tornou alguns de seus parentes irreconhecíveis.

A eleição presidencial americana de 2024 promoveu um racha numa família informal, intensamente corporativista e de atmosfera rarefeita, a dos bilionários e multimilionários do Vale do Silício. Não me incluo entre os que se iludiram, no começo do milênio, com a suposta inclinação de centro-esquerda no DNA de guris esquisitões como o nefasto colonialista tech Mark Zuckerberg.

Mas desta vez, inúmeros detentores de fortunas obscenas multiplicadas pela tecnologia digital, há 16 anos entusiastas de Barack Obama —este sim, um que se iludiu e não teve imaginação para impor freios— pararam de fingir que preferem democracia.

Ex-presidente e candidato à Presidência dos EUA, Donald Trump, e Elon Musk se encontram após o lançamento de um foguete da SpaceX, empresa de Musk, em parceria com a NASA, Agência Espacial Americana, na Flórida - Jonathan Ernst - 30.maio.20/Reuters

O apoio irrestrito a Donald Trump, manifestado em declarações ou em cheques milionários por empresários como o pútrido Elon Musk e megainvestidores de startups tech, como Marc Andreesen, rasgou de vez a fantasia de que o Vale do Silício era um polo politicamente progressista.

A entrada de Kamala Harris na campanha atiçou os ânimos porque, ao contrário do octogenário e analógico Joe Biden, que passou a vida na órbita de Washington, na Costa Leste, ela é um produto da política de San Francisco, vizinha ao Vale, onde tem amigos e aliados. Inspirou a formação de grupos de mulheres como "Tech4Kamala" e "Founders for Kamala" que querem se distanciar do machismo original do Vale.

É impossível explicar a torcida pornográfica de gente como Elon Musk por uma segunda Presidência Trump sem citar o autointeresse óbvio: não querem pagar impostos, não consideram que devem contribuir para a sociedade, como faz a maioria da população que não tem escolha diante do Leão.

Trump, que fez da Casa Branca um leilão de ofertas, deixa claro que seu plano é cortar impostos em troca de apoio de bilionários como o bufão Bill Ackman.

E há, de fato, na plataforma de Kamala, uma proposta que circula há anos e assombra investidores na indústria tech, mas com pouca chance de passagem num futuro próximo, se a vice-presidente se eleger. Seria taxar as fortunas em investimentos acumulados por empresários que, como Musk, não recebem salários formais e financiam seu luxo estratosférico com base no valor das ações que controlam.

O custo das promessas de cortes de impostos da chapa Trump-Vance foi avaliado, nesta quarta-feira (4) pelo site Bloomberg em US$ 10,5 trilhões ao longo de uma década, o equivalente ao orçamento de todas as agências federais domésticas dos EUA.

Mas a alergia a pagar imposto sem fazer qualquer sacrifício cortando mansões, jatinhos ou iates não deve esconder outra agenda do Vale do Silício. É o desprezo pelo papel de governos em sociedades democráticas e a aspiração a esmagar qualquer controle na evolução da indústria tech, seja monopólio, violação de leis de comércio ou disseminação de desinformação.

O governo de Joe Biden, o idoso analógico, cutucou a onça do Vale, e os bilionários querem puni-lo. Não contavam com a entrada em cena de Kamala Harris.

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