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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Com história repetida, 'Boneca Russa' faz jus à reputação de hit do momento

Despretensiosa, série navega entre a humanidade comovente e a fantasia escapista com destreza rara

A atriz Natasha Lyonne em cena de ‘Boneca Russa’ - Divulgação

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Vem de Natasha Lyonne a força de "Boneca Russa" (Netflix), que empresta da atriz e roteirista sua trajetória peculiar para dar vísceras à clássica história da pessoa que revive múltiplas vezes a mesma aflição.

Como Nadia, uma engenheira de videogames novaiorquina que morre no dia em que completa 36 anos, Lyonne é uma versão moderna de Prometeu, o deus da Grécia Antiga condenado a ver uma águia lhe comer o fígado diariamente, apenas para o órgão se regenerar durante a noite e o suplício recomeçar pela manhã.

Ou, no jargão pop, um "dia da marmota" —alusão a "Feitiço do Tempo", filme de 1993 em que um repórter de TV (Bill Murray) revive sucessivamente o tedioso 2 de fevereiro em que grava uma reportagem medíocre no interior da Pensilvânia.

O truque que faz o enredo parecer novo é inserir Einstein, com universos paralelos ao melhor estilo "De Volta para o Futuro" (a Netflix parece ter muito apreço a esse tipo de enredo, vide a série "Dark").

Há ainda algo de existencialismo (com as divagações de Nadia sobre seu lugar no mundo), de psicanálise (ao abordar a relação de pais e filhos) e de feminismo (ao colocar no centro uma mulher que comanda sua trajetória e deixar todos os personagens masculinos para o segundo plano).

Tantos "ismos" poderiam produzir uma bomba de tédio pseudointelectual.

Mas o roteiro ágil, a acidez da tradição de humor judaica em que atriz e personagem se criaram e a vivacidade de Lyonne, que metralha tiradas tão engraçadas quanto verossímeis, fazem de "Boneca Russa" uma série despretensiosa e envolvente, que navega entre a humanidade comovente e a fantasia escapista com destreza rara, sabiamente embalada em episódios de 25 minutos.

Como a protagonista, o espectador está vendo aquilo pela enésima vez, mas há sempre uma sacada nova, uma observação surpreendente, uma pequena reviravolta.

A saber: Nádia é uma engenheira de jogos que está na festa de seu 36º aniversário, rodeada de amigos e ex-casos, quando morre repentinamente em um acidente besta.

Ela, então, desperta no mesmo banheiro, diante do mesmo espelho, na mesma festa, para que tudo aconteça de novo até que ela entenda o que o universo (universos?) quer lhe dizer —e contar mais do que isso é desnecessário, já que a graça da série é inserir surpresas nas repetições.

Lyonne, 39, é um caso raro de ex-artista adolescente que vive uma derrocada trágica e chega à redenção (mais comum é viver só uma perna dessa história).

Modelo infantil, atriz adolescente consagrada tanto em comédias arrasa-quarteirão como "American Pie" quanto em dramas cabeças nos teatros nova-iorquinos, ela viveu uma sucessão de problemas de saúde na década passada, da dependência química a uma infecção cardíaca que quase a matou.

Recuperada, ressurgiu para o público como a carismática presidiária Nick de "Orange is the New Black", da mesma Netflix, em 2013.

Com "Boneca Russa", ela não só transcende o estereótipo da garota-problema como o retorce e o usa a seu favor. Feliz do público.

“Boneca Russa”, em oito episódios, está disponível na Netflix

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