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Marcelo Damato tem 35 anos de jornalismo. Dedica-se à cobertura do poder, no futebol e fora dele

Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Futebol brasileiro precisa abandonar os volantes

Tradição de dividir o meio-campo entre volantes e meias diminui a eficiência dos times no ataque e na defesa

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O técnico português do Botafogo, Luís Castro, disse num programa do SporTV, sem que nenhum dos seus colegas prestasse atenção: "esse conceito de volante no Brasil limita muito".

E de fato limita.

Para nós, brasileiros, os jogadores de meio-campo são divididos em dois grupos: os meias são os bons, criativos, ofensivos e que ajudam na marcação. Os volantes são aqueles que se dedicam principalmente à destruição e que são valorizados quando sabem armar, dar bons passes. Deles não se esperam grandes ações ofensivas.

Quatro dos destaques desta Copa, Bellingham, Modric, Tchouaméni e De Paul, não se encaixam em nenhuma dessas definições. E há mais de cem jogadores assim no Qatar.

Como Tostão disse nesta Folha, são jogadores que destroem, armam e apoiam o ataque. Como esse tipo de jogador surgiu na Europa?

Eles sempre existiram. Os meio-campistas estão no futebol desde o instante zero. Meio-campista é quem tanto ataca quanto defende (há exceções, claro). Assim, quando Griezmann, colocado no meio por Didier Deschamps, faz um desarme atrás da linha da sua grande área, não deveria haver surpresa.

Griezmann (à dir.) e Tchouaméni marcam e atacam no meio-campo francês - Dylan Martinez/Reuters

Mas o Brasil está tão aferrado à ideia da oposição entre defender e atacar que nem mesmo sabe como isso começou.

A origem dos volantes no futebol brasileiro tem origem na implantação do 4-2-4 nos anos 50. O sistema anterior era o 2-3-5 e suas variações, como o WM. Havia dois na defesa, três no meio e cinco no ataque (ponta-direita, meia-direita, centroavante, meia-esquerda, como Pelé, e ponta-esquerda).

Para montar o 4-2-4, dois médios, os laterais, viraram defensores, e um atacante recuou para o meio-campo. Nasceu o meia-armador. Casos clássicos foram Didi, Gérson e Rivelino (ele só ganharia o segundo "l" 20 anos depois da aposentadoria).

O médio restante recebeu uma função exaustiva. Precisava correr de um lado a outro tentando bloquear os adversários: virou médio-volante. A palavra volante já era usada nos anos 30 com pelotões de policiais sem base fixa, como os que foram combater o cangaço, e logo passou a ser adotada para designar a roda que controla o carro.

Com o tempo, o médio-volante virou volante e o meia-armador virou meia (o que levou a um técnico a dizer décadas depois que Pelé foi jogador de meio-campo).

Conforme o futebol foi reduzindo o número de atacantes e aumentando o de meio-campistas, os times passaram a ter dois e até três volantes, junto com um ou dois meias. E como o Brasil prioriza o ataque, o prestígio de um técnico no país é inverso ao número de volantes que escala.

Com especialistas no meio, os times brasileiros têm menos jogadores qualificados nas duas fases do jogo, a ofensiva e a defensiva. E jogadores de meio, por mais técnica que possuem, quando são muito fortes na marcação são chamados de volantes, nunca de meias.

Enquanto isso, na Europa, quem joga no meio-campo, exceto se houver um gênio, precisa defender em doses iguais.

O futebol brasileiro precisa voltar ao grande fluxo conceitual. Enquanto, o futebol teve "escolas" bem diferentes e jogadas individuais conseguiam decidir muitos jogos, era possível ter especialistas no meio-campo.

Esta Copa mostrou que esse período acabou.

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