Marcelo Damato

Marcelo Damato tem 35 anos de jornalismo. Dedica-se à cobertura do poder, no futebol e fora dele

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Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Na seleção brasileira, médico precisa de padrinho

Em mais de 50 anos, departamento médico da CBF teve apenas quatro chefes

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No Brasil, os treinadores são substituídos quase de Copa em Copa —Tite é uma das raras exceções. Mas os chefes do departamento médico da seleção perduram. Nas últimas 14 Copas do Mundo, foram apenas quatro. Desses, dois têm ligação familiar direta.

Lídio Toledo ficou de 1970 a 1978 e de 1990 a 1998, seis Copas. O igualmente carioca José Luis Runco ficou de 2002 a 2014, quatro Mundiais. Os mineiros Neylor (1982 e 86) e Rodrigo Lasmar (2018 e 22), pai e filho, completam a lista.

Nesse período, para chegar ao posto máximo, três condições têm sido obrigatórias: ser ortopedista, ter ligação com um clube grande e possuir um padrinho forte. Neste século, possuir carreira prévia na CBF passou a ser exigido também.

Rodrigo Lasmar com a mão no queixo olhando fixamente durante entrevista
O atual chefe do departamento médico da seleção brasileira, Rodrigo Lasmar - Eduardo Anizelli - 23.mai.18/Folhapress

Ocupar esse cargo tem um benefício imediato: ser o candidato natural a realizar cirurgias nos principais jogadores da seleção, caso surja a necessidade.

Até os anos 90, enquanto a maioria dos jogadores convocados atuava no Brasil, a seleção era alvo de uma intensa disputa bairrista entre Rio e São Paulo (os outros estados eram basicamente desprezados).

A qualidade de jogadores e técnicos era exaltada ou questionada a partir de um ponto fundamental: em qual estado estava atuando.

Como a CBF fica no Rio e, desde sua fundação, todos os presidentes haviam sido cariocas, da gema ou de alma, os técnicos eram quase sempre do Rio —e eles avalizavam os médicos.

Considerando as Copas a partir de 1970, há uma notável coincidência entre as raízes do técnico e do médico. Com Zagalo (na época ainda usava um "l"), um alagoano de nascimento, mas carioca de alma e Coutinho, o médico foi Lídio Toledo.

Quando em 1981, assumiu Telê Santana, o médico passou a ser Neylor Lasmar, mineiro como Telê. O treinador, ex-ponta do Fluminense e campeão brasileiro como técnico do Atlético-MG, era tachado de "paulista" por jornalistas do Rio, por causa de um único trabalho em São Paulo, no Palmeiras, em 1979-80.

Após Telê, voltaram os cariocas: Lazaroni (1990), Parreira (1994) e Zagallo (já com dois "l"s, 1998). E de novo estava Lídio Toledo. O veterano médico só saiu depois de atuações criticadas na Copa de 1998, em especial nos casos de Romário, que seria cortado, e de Ronaldo, no dia da final.

A partir daí, o apadrinhamento do técnico deixou de ser determinante. Quando assumiu Luiz Felipe Scolari, o primeiro da fase "gaúcha" dos treinadores que perdura até hoje, Runco já era médico da seleção principal. Ele havia iniciado na seleção pela base, em 1985.

Runco iniciou uma nova fase no seu setor. O DM passou a ter mais autonomia para incorporar médicos e escolher os sucessores. Runco sobreviveu a três trocas de treinador. Após Scolari, vieram Parreira (2006), Dunga (2010) e Scolari (2014). Só saiu quando o fracasso retumbante na sonhada Copa no Brasil causou a demissão de quase toda a comissão técnica.

Runco foi embora, mas indicou seu primeiro assistente para o lugar. Rodrigo Lasmar entrara na equipe de Runco em 2003, com 31 anos, e foi promovido a chefe aos 42. Aos 50, já possui 19 anos na CBF e cinco Copas no currículo, duas como titular.

Após a Copa, Tite vai sair. Mas, salvo por uma questão ainda desconhecida, Lasmar vai continuar como o médico mais poderoso do futebol brasileiro.

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