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Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

Procuram-se bilionários brasileiros deprimidos

Uma chance de ouro para o filantropo esclarecido apostar na ciência e nos ajudar a todos na luta contra a miséria mental

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Serve também se for dependente químico, anoréxico ou sofrer com estresse pós-traumático. Ou, ainda, se tiver alguém na família sofrendo com uma dessas condições. Basta que tenha cabeça aberta. E, claro, uns R$ 20 milhões para doar.

A oportunidade do século está aberta para quem se encaixa numa dessas condições, ou todas: fundar no país um instituto de pesquisa psicodélica. E, assim, pôr o Brasil no mapa de uma revolução na saúde mental.

O Imperial College, de Londres, já criou o seu Centro para Pesquisa Psicodélica, em 26 de abril. A Universidade Johns Hopkins, de Baltimore (EUA), seguiu o exemplo e anunciou mais um, o Centro para Pesquisa Psicodélica e da Consciência, na quarta-feira passada (4).

Exemplo de ativação cerebral após estimulação com placebo (à direita) e com LSD, à esquerda, avaliada com ressonância magnética funcional - Imperial College London/Reuters

No caso do Imperial, ganhou músculo institucional uma linha de estudos iniciada anos atrás com o apoio da Beckley Foundation. Criada por Amanda Feilding, condessa de Wemyss e March, a fundação fomentou estudos pioneiros de David Nutt com substâncias como psilocibina, obtida de “cogumelos mágicos” (alucinógenos).

O salto dado agora por Nutt e seu pupilo Robin Carhart-Harris teve como trampolim doações de cerca de R$ 20 milhões, amealhados de outra fundação –a Singhal Health, criada pelo canadense Sanjay Singhal– e de indivíduos como Shamil Chandaria, Anton Bilton e Tim Ferriss.

Ferriss também atuou no levantamento de fundos para abrir o centro da Johns Hopkins. O autor do best seller “Trabalhe 4 Horas por Semana” tirou US$ 2 milhões (mais de R$ 8 milhões) do bolso e ainda ajudou a reunir os demais US$ 15 milhões (R$ 60 milhões) que vão sustentar as pesquisas da equipe liderada por Roland Griffiths e Matthew Johnson.

Por que tanta gente esperta e endinheirada está de olho na ciência psicodélica?

“É importante para mim por razões macro, mas também por outras profundamente pessoais”, disse Ferriss, 42, ao jornal The New York Times.

“Perdi meu melhor amigo para uma overdose de fentanil. Tenho na família depressão resistente a tratamento e transtorno bipolar, assim como dependência química. Tornou-se claro para mim que se pode fazer muito nesse campo com bem pouco dinheiro.”

Ferriss com certeza não tem ideia da situação do setor de pesquisas no Brasil, pois só os seus R$ 8 milhões já fariam a felicidade de muitos cientistas brasileiros. Em particular de quem tem a coragem de se aventurar nesse campo de estudos com substâncias alucinógenas, que passam por um renascimento para a psiquiatria.

Já escrevi na Folha sobre os resultados promissores obtidos em estudos preliminares para muitas das condições mencionadas no primeiro parágrafo. Mais recentemente, nesta reportagem.

Há no país vários pesquisadores produzindo estudos importantes na área, como o primeiro ensaio randomizado e com controle de placebo no mundo para investigar efeitos da ayahuasca na depressão resistente. Ele foi realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pelo grupo liderado por Dráulio Araújo.

Não faltam outros cientistas, por aqui, dispostos a lidar com esses compostos ainda cercados de preconceito científico –na própria UFRN, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), na USP de Ribeirão Preto e da capital paulista, na Unicamp.

No governo de Jair Bolsonaro (PSL), contudo, seria mais provável vê-los perseguidos que financiados. É a chance de ouro para um filantropo esclarecido apostar pesado na melhor ciência e, com sorte, livrar-nos a todos da profunda depressão a campear pelo Brasil.

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