Marcelo Leite

Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

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Marcelo Leite

Pesquisadores reagem a patentes de droga psicodélica extraída de fungos

FDA, agência americana de fármacos, deu aval para testes clínicos com substância psicoativa

Na esteira do renascimento das drogas psicodélicas para a psiquiatria, a FDA (agência de fármacos dos EUA) deu no final de outubro seu aval para testes clínicos com a substância psicoativa psilocibina. Presente nos cogumelos alucinógenos Psilocybes, populares entre hippies, o composto ressurge com a promessa de combater a depressão.
 
Renascem também, em paralelo, as controvérsias sobre compostos psicodélicos. Não tanto como a voga contra os excessos da contracultura dos anos 1960/70, que resultou na proibição do LSD (embora não se possa descartar uma reação do ultraconservadorismo no Brasil e alhures), mas até entre os militantes da ressurreição.

Cogumelo
Psilocybe pelliculosa - shroom360


 
O sinal verde da FDA contemplou a empresa britânica Compass Pathways, que propôs investigar o potencial antidepressivo da psilocibina num estudo clínico de fase 3, aquela que pode conduzir à consagração oficial de um medicamento. Seu alvo é tratar a depressão resistente aos remédios ora em uso.
 
A proposta da Compass recebeu o rótulo de “breakthrough therapy” (algo como “terapia revolucionária”; leia aqui em inglês). Concede-se tal status a drogas que mostrem em estudos prévios potencial para obter avanço substancial sobre os tratamentos disponíveis.
 
O mesmo aconteceu em agosto de 2017 com o plano de medicar com MDMA (base do ecstasy) portadores de transtorno de estresse pós-traumático. Também existem estudos, no Brasil e no exterior, sobre terapias psicodélicas com ayahuasca e ibogaína.
 
Por trás da Compass está o casal Ekaterina Malievskaia, médica, e George Goldsmith, empresário. Eles têm um filho que passou por grave depressão refratária a tratamento, o que os levou a criar em 2015 uma ONG de mesmo nome para impulsionar alternativas psicodélicas.
 
Planejavam um projeto de pesquisa com psilocibina em clínica na ilha de Man (Reino Unido) e pediram a colaboração de vários pesquisadores da área. Em lugar disso, acabaram transformando a ONG numa empresa com fins lucrativos, partiram para patentear processos de síntese química do composto e submeteram o teste clínico à FDA.
 
Alguns dos cientistas que lhes deram consultoria quando ainda eram uma ONG se sentiram usados. Outros, muitos deles pioneiros psicodélicos dos tempos da contracultura que resistiram ao período de hegemonia proibicionista, assinaram um manifesto (em inglês aqui) em defesa da livre circulação de dados na renascida ciência psicodélica.
 
Para eles, a propriedade intelectual da Compass poderia tornar os futuros tratamentos menos acessíveis e mais caros. Malievskaia reconheceu alguns tropeços num artigo (também em inglês), mas defendeu a estratégia comercial de sua empresa como a maneira mais rápida de levar alívio e esperança a quem sofre.

 


Está aberta a temporada de coleta de informações do Global Drug Survey 2019 (levantamento global sobre drogas), que qualquer pessoa pode responder pela internet. Basta clicar na bandeira do Brasil e submeter, aí se abre uma página em português para maiores de 16 anos participarem.
 
O levantamento, que tem por lema “Promovendo uma conversação franca sobre uso de drogas”, constitui uma das principais fontes de dados sobre hábitos de consumo de substâncias legais e ilegais, como álcool, maconha, tabaco e cocaína.
 
Na edição de 2018 participaram 130 mil pessoas de 40 países. Os organizadores ressalvam que os resultados representam apenas o universo de internautas que respondem, não o total da população.
 
Dos 45 mil que responderam sobre maconha, no GDS2018, 900 eram do Brasil, e 65% deles relataram já ter fumado, 57% nos 12 meses anteriores. No caso de cocaína, os respectivos percentuais foram 29% e 16%.
 
Na versão 2019, que está na reta final de coleta de dados, drogas psicodélicas como o LSD ganharam mais destaque.

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