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Jornalista de ciência e ambiente, autor de “Psiconautas - Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” (ed. Fósforo)

Coronavírus é coisa séria

Quando surge um vírus como o CoV, a humanidade inteira fica vulnerável

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A epidemia mundial da síndrome respiratória covid-19 passou a marca de 100 mil infectados e mais de 3.500 mortes. No Brasil são duas dezenas de casos, já se registrou transmissão local e há pelo menos uma pessoa em estado grave.
 
É questão de tempo para que a doença se espalhe mais e as mortes comecem a acontecer também por aqui. Medidas que hoje parecem despropositadas, como fechamento de escolas, se tornarão mais comuns.
 
Se o vírus CoV chegar a casas de repouso, será devastador para idosos. Morrem até 15% dos infectados com mais de 80 anos.

 

Governo e comunicadores que tratam da doença têm a obrigação de repetir que não há, apesar de tudo, razão para pânico. Estocar máscaras e álcool gel é irracional, assim como arriscar-se a contrair o coronavírus em salas de espera de pronto-socorro, se a pessoa não tiver sintomas respiratórios graves ou febre alta.
 
Isso não quer dizer que a coisa não seja séria. É séria, sim, gente.
 
Ouve-se aqui e ali o argumento de que dengue, malária ou gripe (influenza) são coisas mais grave, que matam muito mais pessoas. Há alguma verdade aí. Morrem a cada ano no mundo uns 400 mil pacientes com influenza; no Brasil, em 2019, foram mais de 900 até o fim do inverno.
 
Engana-se quem concluir disso que não há motivo para se preocupar. No caso da gripe existem conhecimento sobre sua dinâmica epidemiológica, vacinas, antivirais eficazes e anticorpos na população, o que não a impede de ser um flagelo de saúde pública.
 
Nada disso está disponível no caso do coronavírus.
 
Quando surge um vírus novo como esse CoV, a humanidade inteira fica vulnerável. Ainda mais quando o período de incubação for longo, como no seu caso, durante o qual o portador segue infectando outros sem saber.

Além disso, muitos dos que contraem o novo vírus desenvolvem formas leves e benignas da doença. Esses portadores tendem a passar despercebidos, o que torna muito difícil saber com alguma margem de precisão quantos são os transmissores, efetivamente.
 
A nuvem de desconhecimento que paira sobre a covid-19 dificulta o planejamento de ações para combatê-la. Nos Estados Unidos, a distribuição inicial de kits para diagnóstico foi um desastre, motivada talvez pela hesitação do governo de Donald Trump, propenso a desconfiar das evidências e refratário ao princípio da precaução (como no caso da mudança climática).
 
A taxa de mortalidade da moléstia foi estimada em torno de 3,4%, mas ela se refere ao total de casos conhecidos no mundo, não aos realmente existentes, entre os quais talvez a maioria passe indetectada. Parece provável, se e quando houver dados mais fiéis, a futura constatação de que ela em realidade seja mais baixa, de 2% ou 1%.
 
Tranquilizador? Não exatamente. No ritmo atual, não será surpresa se a pandemia alcançar a casa dos milhões de afetados, afinal a covid-19 já chegou a 93 países. E a maioria deles não são ditaduras como a chinesa, que tem poder e meios para impor quarentenas a dezenas de milhões de cidadãos.
 
Nesse cenário com milhões de doentes, 1% ou 2% de mortes (para não falar de 15% entre os velhinhos) representará um número assustador. Cabe, portanto, levar o coronavírus a sério e lavar bem as mãos —com frequência, não com pânico.

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