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Pesquisador associado do Insper, é organizador do livro 'Para não esquecer: políticas públicas que empobrecem o Brasil'

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Investir nas pessoas

Subsidiar empresas, em vez de investir nas pessoas, mata o crescimento e perpetua a desigualdade

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Existe uma ilusão de que o Brasil é rico, e que bastaria redistribuir a renda para que todos vivessem bem. Não é verdade. Se todos recebessem a mesma renda, cada habitante ficaria com pouco mais de R$ 2,5 mil por mês. Seríamos um país de pobres ou remediados.

Para acabar com a pobreza, é fundamental crescer sistematicamente ao longo de décadas. Temos falhado terrivelmente. Entre 1980 e 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) per capita do Brasil cresceu apenas 34%. Nossos vizinhos latino-americanos cresceram 74%.

Nos EUA, 95%. Nos países do sudeste asiático e pacífico, responsáveis por histórica redução da pobreza, o PIB per capita cresceu 342%.

Economia criativa no mercado de trabalho - Ilustração / Catarina Pignato

Onde erramos? Perdemos grande oportunidade nas primeiras décadas do Século 20, quando se intensificou a migração do campo para a cidade. A mudança para o ambiente urbano era uma chance do indivíduo se livrar da imobilidade social típica do meio rural.

Se tivesse havido um programa maciço de educação pública dessa população que estava iniciando uma nova vida na cidade, o ciclo de pobreza poderia ter sido quebrado, abrindo oportunidades de trabalho mais qualificado, gerando mais produtividade, crescimento e igualdade de oportunidades.

Porém, o caminho escolhido foi outro. Optou-se por subsidiar e proteger empresas, para estimular o seu investimento, em vez de se investir nas pessoas. Esse modelo se consolidou e vem se repetindo desde então.

Há vários problemas nessa estratégia. O processo de crescimento é volátil. Não se sabe quais empresas e setores serão mais dinâmicos no futuro. O que é moderno e de ponta hoje, amanhã é ultrapassado. Quem poderia prever, algumas décadas atrás, que entre as maiores empresas do mundo estariam negócios como Google, Uber ou Alibaba? Ou a queda de Kodak e IBM? Há grande chance de o Estado fazer apostas erradas.

Ademais, somente investimento em capital físico, sem ganho de produtividade, não garante crescimento por longo tempo. Quando uma nova fábrica entra em operação, o PIB sobe. Mas nos anos seguintes, com a fábrica mantendo o nível de operação, o PIB continuará no mesmo nível.

Ou havendo expansão da produção, os rendimentos serão decrescentes. Só ocorrerá crescimento contínuo se essa fábrica se tornar mais produtiva. Um componente essencial para isso é ter trabalhadores instruídos e capacidade de inovação técnica.

Subsídio e proteção viciam. As empresas se armam com lobbies para não perderem os benefícios. Ganham poder de mercado e político, bloqueiam a competição. Sem competição não há incentivos para inovar e aumentar a produtividade. O subsídio ao capital reforça a desigualdade de renda.

O modelo escolhido funcionou por um tempo. A migração campo cidade, por si só, já permitiu ganhos de produtividade: um indivíduo sem instrução, trabalhando na construção civil, por exemplo, sob orientação de engenheiros, é mais produtivo que em uma lavoura de subsistência.

Somando a isso os subsídios ao investimento das empresas, o país cresceu por algumas décadas. Mas depois parou. O processo migratório se exauriu, as fábricas subsidiadas ficaram ultrapassadas ou incapazes de competir.

O nosso crescimento estagnou a partir de 1980, justamente quando a economia mundial passou a funcionar com base nas cadeias globais de valor: muitas empresas deixaram de fazer o produto completo, especializando-se em partes da produção, exportando-as para serem montadas em outro país. Nossas empresas mostraram-se incapazes de se integrar nesse processo produtivo globalizado.

Tivéssemos uma população instruída, seríamos mais capazes de inovar, empreender e de nos adaptarmos às mudanças. Ao optamos por subsidiar as empresas, em vez de investir nas pessoas, não só matamos o crescimento, como perdemos a oportunidade de quebrar a espinha da desigualdade.

Nas últimas décadas, aumentou bastante o investimento público em educação. Porém, de forma pouco eficaz. Não conseguimos transformar mais anos de estudo em mais produtividade. Os próximos governos têm o desafio de melhorar a qualidade do investimento nas pessoas e deixar de lado o subsídio e proteção a empresas.

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