Siga a folha

Jornalista e roteirista de TV.

Descrição de chapéu Todas maternidade Herança

Sem filhos: quem vai cuidar de mim?

Somos sempre tachadas de egoístas por nossas escolhas, como se elas não pudessem ser reavaliadas ou contestadas

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

No programa Sábia Ignorância, no GNT, a atriz Paula Burlamaqui disse que se pudesse voltar no tempo, teria um filho para garantir seu bem-estar na velhice. Ter mais liberdade foi a razão pela não-maternidade que agora ela contesta. Corajoso de sua parte admitir publicamente o medo de não ter amparo na velhice. Foi chamada de egoísta por todos os lados. Por ter priorizado a liberdade no passado e agora por se preocupar com seu bem-estar.

Somos sempre tachadas de egoístas por nossas escolhas, como se elas não pudessem ser reavaliadas ou contestadas. A certeza de hoje, pode ser a dúvida de amanhã. Medo da solidão, de desamparo financeiro ou emocional estão na lista de qualquer pessoa ciente de que a vida está cada vez mais longa. Cada uma lida como pode com seus fantasmas. Senti alívio ao ouvir a resposta da antropóloga Mirian Goldenberg ao desabafo da atriz. Quem vai cuidar de mim? As minhas amigas. As palavras quase saíram da minha boca ao mesmo tempo que Miriam as verbalizava. Há tempos considero exatamente essa opção quando olho para o futuro e me vejo bem velhinha, mas cheia de energia, rodeada de bons amigos e, espero, um bom plano de saúde.

Até hoje sou questionada sobre a decisão, tomada juntamente com meu marido - Unsplash

Aos 53 anos, nunca tive vontade de ter filhos. Até hoje sou questionada sobre a decisão, tomada juntamente com meu marido. Ele raramente enfrenta a mesma inquisição. Ao meu redor vejo cada vez mais mulheres irem na mesma direção por motivos distintos. Falta de vocação, de um bom companheiro ou companheira para dividir o projeto, por questões econômicas, pela carreira profissional, pela liberdade.

São pessoas que têm questionado o roteiro traçado pela sociedade que ainda o considera único. Sempre que me perguntam se me arrependo de não ter tido filhos, tenho vontade de perguntar se o interlocutor se arrepende. Não o faço por empatia, as pessoas não estão preparadas para falar sobre um dilema que atormenta uma multidão. O fato é que a grande maioria não para um minuto para pensar se um filho cabe em sua vida. O desconforto com a maternidade compulsória só aparece quando as mulheres se sentem sufocadas por papéis que lhes foram dados sem que elas avaliassem se tinham talento, tempo, vontade, dinheiro, para representar.

Paula Burlamaqui parece ter caído na armadilha do medo da solidão na velhice, o que pregam 10 entre 10 defensores da maternidade obrigatória. Como bem explicou Mirian, o índice de violência patrimonial, verbal e física de filhos contra pais é alarmante. Contar com os cuidados de um rebento parece uma garantia muito menor do que investir na saúde, alimentar boas amizades, guardar dinheiro. Eu e minhas amigas temos um pacto de terminar a vida juntas. Morar no mesmo prédio, na mesma vila, na mesma beira de praia. Tanto faz. Contanto que a gente possa cuidar uma da outra e ainda ter fígado para tomar nossos vinhos.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas