Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

O preço do assédio no elevador

Continuam a abraçar a cultura do estupro porque acreditam na impunidade

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Quanto vale apalpar a bunda de uma desconhecida? Para o assessor de investimento Israel Leal Bandeira Neto deveria ser de graça. Ele achou "exorbitante" o pedido de indenização de R$ 300 mil feito pela defesa da mulher que ele atacou na porta de um elevador de um prédio comercial. Reclama da repercussão que o caso teve, do linchamento virtual, da perda de emprego. Ele deveria ter calculado melhor o preço que a importunação sexual teria e avaliado se valia mesmo fazer o que fez. É o que a maioria das mulheres faz quando sai de casa: cálculos.

Este decote está muito grande para ir trabalhar? Posso pegar esse táxi sozinha? Essa rua é segura? Devo usar essa saia tão curta? Posso viajar sozinha para este destino? Se eu beijar, ele acha que vou dar? Se eu disser não, ele vai entender? Mudei de ideia, e agora? Se sorrio, tô dando mole; se fico séria, sou antipática.

Mulher denuncia homem que passou a mão em partes íntimas dela enquanto saía de elevador em Fortaleza - Reprodução

A vítima de Bandeira Neto estava dentro do elevador e quando saiu o assediador apertou a sua bunda e correu para dentro do elevador e apertou o botão para que a porta se fechasse. As câmeras de segurança registraram o ataque e a sequência, na qual o sujeito corre pelo estacionamento e foge de carro, como se fosse um moleque que tivesse roubado um chiclete na venda da esquina.

Mas Bandeira Neto não é um moleque. É um adulto que sabia muito bem o que fazia, tanto que tentou se refugiar do flagrante. Trezentos mil? Tá barato. Ainda assim, uma parcela dos homens prefere ignorar os limites claros entre paquera e crime. Continuam a abraçar a cultura do estupro porque acreditam na impunidade. Alimentam um cotidiano de horror de milhões de mulheres que saem de casa sem saber se voltarão sem sofrer alguma agressão.

Violência não é só estupro. Até lá, há uma Via-Crúcis todinha percorrida por mulheres diariamente, marcada por medo. Ficou cara a apalpada na bunda? Quanto seria justo? Cinco, dez contos? A maioria das mulheres, sempre que pode, paga para não correr riscos. Façam as contas para ver quem está no prejuízo.

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