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Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

O futuro das eleições dos EUA está no Texas

Expansão da população latina e chegada em massa de jovens liberais transformam demografia do estado

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Há uma possibilidade de o pleito desta terça (3) terminar logo após o fechamento das urnas. Se o Texas, onde a divulgação dos resultados tende a ser imediata, endossar o candidato democrata pela primeira vez em quase quatro décadas, Donald Trump terá praticamente todos os caminhos fechados para a reeleição.

Para o Partido Republicano, a perda do segundo maior Colégio Eleitoral depois da Califórnia deitaria por terra a revolução conservadora iniciada por Ronald Reagan em 1981.

A transformação em curso no Texas ultrapassa o trumpismo. Ela parte de uma transição demográfica motivada pela expansão da população latina e pela chegada em massa de jovens liberais fugidos de estados litorâneos como Califórnia e Nova York, onde o mercado imobiliário tornou-se insustentável.

Apoiador com bandeiras dacampanha de Biden e Kamala e do movimento Black Lives Matter em Houston, no Texas - Go Nakamura - 13.out.20/Reuters

Essa geração está mudando o padrão de voto das áreas urbanas. Não por acaso, a primeira sensação da campanha, Beto O’Rourke, tem as suas origens nessa nova bolha democrata.

A economia também passa por uma mudança profunda. O boom do petróleo no começo do século 20 posicionou o Texas como um fazedor de reis. O democrata Lyndon Johnson, sucessor de JFK, foi o primeiro presidente a articular um projeto nacional com os produtores de petróleo locais.

A partir dos anos 1980, o político texano, com as suas botas de cano alto, escandalosamente rico e orgulhosamente pouco cultivado, virou figura dominante do conservadorismo, encarnado pela família Bush. Em 2010, uma pequena revolução industrial iniciada no Texas teve um impacto inesperado na formação ideológica do Partido Republicano.

A descoberta de imensas reservas de gás de xisto levou os Estados Unidos à independência energética e tornou possível a virada nacionalista promovida por Donald Trump nas primárias do partido em 2016.

No estado, a dinastia Bush deu lugar a uma geração de populistas de primeira linha liderada pelo senador Ted Cruz. Em tese, a interiorização da indústria energética deveria reforçar o Texas, responsável por grande parte da produção. Mas a pandemia virou o mundo de cabeça para baixo. Pela primeira vez na história, o mercado tem um aumento na oferta de petróleo e uma queda acentuada na sua procura.

A ascensão da energia verde, motivada por agendas políticas e inovações tecnológicas, tende a perenizar essas mudanças vistas inicialmente como conjunturais.

O Texas está, literalmente, afogando-se no ouro negro. Sob pressão dos ativistas climáticos, Joe Biden já se comprometeu a manter os lobistas da indústria petrolífera longe da Casa Branca.

Antecipando a desgraça política e o efeito do baixo preço do petróleo, a texana Exxon, maior petroleira nacional, reduziu em US$ 30 bilhões suas reservas de gás natural na última semana antes da eleição.

Uma vitória democrata nesse feudo republicano ainda é considerada improvável. O senador republicano John Cornyn deve ser reeleito sem grandes dificuldades. Mas a corrida presidencial deixou claro que o destino do Texas está em aberto.

Independentemente do que acontecer nesta terça, democratas e republicanos terão de repensar toda a sua estratégia nas próximas eleições.

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