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Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

Descrição de chapéu COP26 mudança climática

COP26 vai punir os mentirosos

Aos cooperantes da política climática serão oferecidos os dólares; aos charlatães, as sanções

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Olhando para a primeira semana da COP26, podemos enxergar um copo meio cheio ou um copo vazio.

Por um lado, os compromissos sobre a descontinuidade da produção de carvão, o fim do financiamento dos combustíveis fósseis e a redução mundial da emissão de metano estão aproximando os países do objetivo central da reunião de cúpula internacional: manter viva a promessa de segurar o aquecimento global a 1,5°C.

Por outro, a diferença entre a promessa e a realidade cria um problema de credibilidade. Governos anunciam objetivos para 2050 ou 2060, mas se recusam a especificar que medidas serão tomadas na próxima década. Na ausência de planos concretos, os financiamentos internacionais tardam a ser desbloqueados.

Ativistas fazem protesto durante a COP26, em Glasgow (Escócia) usando fotos de alguns líderes mundiais; da esq. para a dir.: Boris Johnson, premiê britânico; Jair Bolsonaro, presidente do Brasil; Narendra Modi, premiê indiano; e Fumio Kishida, premiê do Japão - Andy Buchanan - 2.nov.21/AFP

Diante de tantas hesitações, só um país, o Marrocos, conseguiu se aproximar dos objetivos assumidos em 2015. O que valem as promessas feitas numa COP? E quem vigia quem na política climática?

A segunda semana da COP será em parte dedicada a responder a essas questões. A União Europeia defende a estratégia do chicote e da cenoura. Aos cooperantes serão oferecidos os dólares. Aos charlatães, as sanções.

O governo sul-africano, por exemplo, jogou para extrair o máximo de benefícios e anunciou um megapacote de transformação econômica financiado por potências ocidentais da ordem de US$ 8,5 bilhões. O projeto é uma boia de salvação para uma economia decadente há mais de uma década. Ele vai reforçar, todavia, a imagem da política ambiental como uma nova imposição aos países em desenvolvimento.

Os críticos dirão que a era do ajuste estrutural está dando lugar a uma era do ajuste climático.

Um Estado brasileiro minimamente funcional teria tudo para triunfar nas contradições dessa nova geopolítica do clima. A COP deixou evidente que o país faz falta no mundo, por ser o líder natural de uma região em perda de relevância global, por ser capaz de reativar as relações Sul-Sul —um dos ângulos mortos das discussões de Glasgow— e por sua importância no controle de um dos reatores nucleares do clima, a Amazônia.

Como é amplamente conhecido, o governo Bolsonaro abdicou de todas essas vantagens e tratou a COP como um problema de marketing que poderia ser mitigado com propaganda e promessas em que ninguém acredita. Essa abordagem prosaica da primeira grande reunião de cúpula da era pós-pandemia terá graves consequências para a economia.

O Parlamento Europeu tem agendado para o final deste ano o primeiro debate sobre importações de regiões atingidas pelo desmatamento, ponto de partida para a elaboração da lei do "desmatamento importado".

Os eurodeputados já deixaram público, inclusive em entrevista para este jornal, que pretendem explorar a imagem calamitosa de Bolsonaro para mobilizar a opinião pública europeia, ganhar o apoio de governos relutantes e sujeitar a soja brasileira a um regime venezuelano de restrições.

Com tantas mentiras e fraudes, o governo Bolsonaro acabou legitimando a criação de um sistema de incentivos e punições na política climática. Afinal, sua contribuição para a COP foi maior do que se pensava.

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