Eu, enquanto frouxo, vou escrever este artigo sobre nada. Nada do que sinto, nada do que penso. Porque foi todo censurado por meu assessor de imprensa, que eu pago para me cancelar.

Eu, enquanto politicamente correto, só falo de ESG, de propósito, adoro falar de propósito. Eu, que adotei uma escola, neutralizo carbono e minha consciência para compensar a minha covardia.

Eu, enquanto covarde, bloqueio do meu Instagram palavras como coragem e atitude.

Eu, enquanto Vichy, me cooptarei com meu IPO, minha consultoria de sucesso. Virarei unicórnio e serei moderno porque tomo Uber, me exilei na Faria Lima e compro remédio para dormir por delivery.

Eu, que não sou mais homem nem rato, sou um token. Não sou mais uma life, sou uma live, um fariseu millenial nesta quaresma, com puff na sala e pebolim no meu ex-critório, e espero os EUA abrirem para me aposentar e não ter, finalmente, nem country nem home nem office.

Eu, enquanto autocancelado, agora faço mindfulness. Não penso em nada, não faço nada, que é para viver cada momento de cada vez, sem passado e sem qualquer vontade de construir o futuro, porque eu me suicidei para conseguir viver a vida.

Eu, principalmente enquanto Pilatos, lavo as mãos com álcool gel nesta Páscoa cheia de cruzes.