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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

A pergunta a ser feita é se dará para jogar o Brasileiro até o fim

E a questão que não se pode fazer é: como vou levar vantagem sobre meu rival?

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Não é porque o Goiás tinha 14 jogadores infectados por coronavírus e enfrentou o Palmeiras no Allianz Parque, em agosto, que todos os jogos devem ter o mesmo critério. O Flamengo teve 16 contaminados durante a viagem ao Equador. Falamos em empatia. Pois se coloque no lugar de quem manteve o jogo Palmeiras x Goiás e tinha de tomar a decisão de adiar Palmeiras x Flamengo.

É o tipo de escolha fácil para quem está do lado de fora. Ser escravo da coerência ou tomar a decisão pela saúde, em meio ao surto de Covid-19 no Ninho do Urubu.

As redes sociais pulsaram com comentários que foram do "bem feito ao Flamengo" até "o Palmeiras tem de ter força na confederação".

Flamengo tem jogadores infectados antes de enfrentar o Palmeiras pelo Brasileiro - Rodrigo Buendia - 22.set.2020/AFP

Há décadas, o vírus mais letal do futebol brasileiro é o clubismo. Quem já assistiu a uma reunião da Comissão Nacional de Clubes ou do antigo Clube dos 13 percebeu como é impossível haver dirigentes pensando no bem coletivo.

À medida em que os casos de Covid-19 no Flamengo aumentavam em progressão geométrica durante esta quinta-feira (24), a única pergunta pertinente era: vai dar para continuar o campeonato?

É justo questionar os jogadores do Flamengo aglomerados e sem máscaras no voo de volta do Equador, tentar descobrir onde se deu o furo dos protocolos, entender se algum jogador do elenco foi para uma balada e ajudou a contaminar a todos os outros. Todas as perguntas são necessárias para entender a origem e como agir para tentar evitar novos surtos.

Mas teve torcedor rubro-negro insinuando que Fred, do Fluminense, contaminou a todos –não foi isso– e outros dizendo que, se o Goiás jogou, o Flamengo tem de jogar.

O que parece claro é que a Libertadores e as viagens pelo continente abriram margem a mais contaminações, num cenário que já não era fácil. Depois do adiamento de Goiás x São Paulo, a comissão médica da CBF entendia que a situação se acalmaria após a quarta rodada. E de fato, o noticiário mudou.

Em vez de o Brasileiro invadido pelo coronavírus, entraram o vexame do Flamengo contra o Independiente del Valle, o Palmeiras que não perde e nem ataca, o Corinthians beirando a zona de rebaixamento, o sobe e desce de São Paulo e Santos.

Até os times começarem a cruzar o continente, e os casos explodirem na segunda semana da Libertadores.

Se o Brasil é o segundo país em número de mortes no planeta, o Peru é o primeiro por milhão de habitantes e o Equador está tecnicamente empatado nesse índice.

As viagens aumentaram o risco, enquanto a rotina dava a impressão aos jogadores de que era possível relaxar. As cenas de Rodrigo Caio comandando uma palestra dentro de campo, sem máscara, com Thuler, Léo Pereira e Renê juntos, demonstra que todos já estavam levando a vida perto do normal. Os quatro estão infectados.

É óbvio que o protocolo tem furos. Nada é 100% garantido, nem no futebol, nem na indústria, no comércio ou nos cinemas, autorizados a reabrir em outubro, no Rio de Janeiro.

No caso do surto do Flamengo, é mais provável que se tenha furado o protocolo do que o protocolo ter dado furo.

Furar o protocolo é, por exemplo, levar toda a diretoria, com senhores acima dos 60 anos, para uma viagem pelo continente mais afetado pelo coronavírus neste momento.

Não adianta fazer como o Chapa, personagem do velho desenho animado Carangos e Motocas, e dizer "eu te disse, eu te disse" que não era para voltar o futebol. Voltou.

Vai haver contradições e incoerências daqui até a vacina. Não vai ser normal. A pergunta necessária é: vai dar para jogar até o fim? E nunca: como vou levar vantagem sobre meu rival?

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