No mesmo dia em que o país ficou sabendo que o PIB recuou 0,2% no primeiro trimestre, dando um sinal inequívoco de que o Brasil pode já estar em recessão, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, fez uma “live” com um guarda-chuva dizendo que estava “chovendo fake news”.

Os dois episódios não são coincidência e estão diretamente relacionados. Os constrangimentos promovidos por membros do primeiro escalão do governo –e também pelo presidente Jair Bolsonaro– estão na raiz do desempenho pífio da economia.

Explico: o fraco resultado do PIB neste início de ano não é consequência da crise na Argentina ou do desastre de Brumadinho, embora tais episódios colaborem. O problema é estrutural. A indústria continua em crise profunda, afetando o setor de serviços. O consumo tenta se recuperar, mas não decola, porque não tem emprego.

E por que não tem emprego? Porque os investimentos estão em queda.  No primeiro trimestre, a formação bruta de capital fixo recuou 1,7%, após queda de 2,4% nos últimos três meses de 2018. E por que os empresários não estão investindo? Simplesmente porque não confiam no governo.

Com exceção da proposta de reforma da Previdência e de algumas concessões públicas,  o governo Bolsonaro não tem plano para o país. Passados cinco meses de mandato, isso ficou claríssimo para o empresariado. "As falhas de coordenação do governo, apesar de tanta gente séria em sua equipe, prejudicam a retomada dos investimentos e a recuperação da economia", disse à coluna Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.

As estimativas positivas que existiam no fim do ano passado se esvaíram por causa das confusões do Executivo com o Congresso, que prejudicam prejudicam a tramitação das reformas, principalmente da Previdência. O país, que precisava de união para sair do buraco, vai de manifestação em manifestação. Para piorar, Bolsonaro chama os manifestantes de “idiotas úteis”.

E as aparências também contam. Os tempos mudaram e é interessante que os governantes se comuniquem diretamente via redes sociais, mas os cargos de presidente e de ministro de Estado exigem decoro, principalmente em tempos de economia tão fraca. Quem vai confiar num sujeito que, em meio a protestos contra sua gestão e cortes no seu orçamento, aparece girando um guarda-chuva diante de uma câmera? Realmente, só faltou sapatear.