A leitura de que o Brasil vive uma precoce e rápida desindustrialização foi reforçada pela divulgação dos resultados da economia no início deste ano.
Uma nova redução da atividade na indústria de transformação fez com que o peso do segmento no PIB (Produto Interno Bruto) caísse para o menor patamar histórico desde o início de 1996 —quando dados trimestrais passaram a ser divulgados.
Os cálculos feitos pelo economista Paulo Morceiro mostram que a participação do setor no PIB equivalia a 11,3% no fim de 2018 e recuou para 10,4% no começo deste ano.
Até então, o pior resultado (11% do PIB) havia sido registrado no primeiro e repetido no segundo trimestre de 2018.
"Por uma questão sazonal, o peso da indústria tende a ser menor no início do ano e aumentar no segundo semestre", diz Morceiro, que pesquisou o setor industrial em seu doutorado, concluído na USP no ano passado.
Ele ressalta que, embora a participação do segmento industrial no PIB deva aumentar um pouco antes de voltar a recuar, a tendência de queda contínua nos últimos anos poderá derrubar a fatia para um nível inferior a dois dígitos já em 2020.
"Trata-se de um processo muito rápido de desindustrialização que o Brasil já atravessava e foi acentuado pela crise dos últimos anos", diz.
O resultado da indústria de transformação não inclui o desempenho de outros segmentos do setor no PIB, que abrange também a indústria extrativa, a construção civil e o segmento de eletricidade.
Segundo os dados divulgados nesta quinta (30) pelo IBGE, o setor industrial como um todo recuou 0,7% nos primeiros três meses do ano em relação ao período entre outubro e dezembro de 2018.
Boa parte dessa queda se deveu ao tombo de 6,3% da indústria extrativa em decorrência do rompimento da barragem em Brumadinho.
A última vez em que a indústria extrativa caiu tanto foi no quarto trimestre de 2008, quando os preços das commodities despencaram em resposta à crise financeira global detonada pela falência do banco Lehman Brothers, em setembro daquele ano.
"Sem dúvida Brumadinho teve um efeito grande, mas, mesmo descontando esse impacto, a indústria tem sofrido o impacto da demanda fraca", afirma Morceiro.
Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, sem a queda da indústria extrativa, o PIB poderia ter ficado estável, com resultado ao redor de zero, em vez de registrar a queda de 0,2%. "A indústria extrativa foi responsável pela queda do PIB", disse Palis.
O rompimento da barragem da Vale ocorreu no dia 25 de janeiro. Em seguida, houve reforço em restrições a operações de barragens construídas com tecnologia semelhante.
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