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Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Seleção de Tite recebe mais críticas do que merece

Entre julgar o hexa impossível e achar que já é nosso, fico com o meio-termo

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O cheiro de café saindo, o pratinho do pão com manteiga em frente à televisão, e o Galvão Bueno gritando "olha o gol, olha o gol, olha o gol". Na minha cabeça, é memória recente, mas, pensando bem, já nem é tanto assim. Faz 20 anos, e eu tinha só 13 na época. Mas como me diverti tomando café da manhã em família e vendo a seleção que seria pentacampeã do mundo em campo.

A cena era muito parecida na última sexta-feira (3), ainda sem o peso de ser jogo de uma Copa do Mundo. E nesta segunda-feira (6) também. Inevitável não se sentir nostálgico de 2002 acordando cedo para ver o Brasil jogando na Coreia e no Japão com boas apresentações dentro de campo.

Contra os coreanos, goleada, variações ofensivas, jogo bonito. Contra os japoneses, o Brasil encontrou uma seleção que se defendia com dez na área e parava as jogadas na falta. Ainda assim, testando um quarteto ofensivo sem centroavante fixo, a seleção criou boas oportunidades em um contexto bastante adverso. Venceu por 1 a 0.

Neymar celebra o gol da vitória do Brasil sobre o Japão - Issei Kato/Reuters

Ainda não é Copa, mas já é Copa também. São os últimos ajustes para que, quando novembro chegar, a seleção esteja pronta para buscar o hexa.

Tem gente que acha impossível. Tem gente que acha que já é nosso. Entre esses, eu fico com o meio-termo. Mas como é difícil encontrar um meio-termo nas opiniões sobre seleção brasileira. Vence a eliminatória da Copa atropelando adversários e "não faz mais que a obrigação, América do Sul não é parâmetro". Goleia a Coreia do Sul, e "é adversário fraco". Convoca jogador do seu time e "está querendo prejudicar o clube na disputa do Brasileiro". Não convoca jogador do seu time, e "só tem olhos para o futebol europeu". Se Neymar joga bem, dizem que "ainda não ganhou nada". Se tenta drible e é derrubado, "tá segurando muito a bola".

Em 2002, provavelmente era assim também. Mas daquela Copa prefiro lembrar o cheirinho do café, ou as madrugadas de pipoca na sala com os três erres: Ronaldo, Rivaldo e golaço de Ronaldinho Gaúcho de falta. Lembro até a vibração das cordas vocais de Galvão ao gritar os errrrrrres daquele jeito que ele eternizou.

"Deixa a vida me levar, vida leva eu, sou feliz e agradeço por tudo o que Deus me deu" era a música de Zeca Pagodinho que embalava a seleção 20 anos atrás. A cara do futebol daquele time: leve, feliz.

Já se passaram quatro Copas desde então –incluindo aquela do "quadrado mágico" e a do 7 a 1–, e eu me peguei nesta segunda-feira a lembrar 2002 sem exatamente voltar ao passado, mas olhando para o presente e projetando o futuro. A seleção que eu vejo joga leve e feliz. Mesmo que o torcedor não se conforme com Neymar protagonista, com a 10 nas costas, sendo o maestro do time; com Paquetá ao lado dele, Vini Junior pedindo passagem, Raphinha colocando adversários pra dançar; sem Raphael Veiga e Hulk, os "injustiçados" do futebol brasileiro.

Em alguns anos cobrindo as seleções (masculina e feminina), aprendi que há uma coisa certa: sempre, SEMPRE, haverá críticas às convocações. O nome que tinha que estar e não está, o nome que não faz sentido, mas ganha chance. Mas não é isso o que define a qualidade do trabalho de uma comissão técnica.

Você pode achar injusto que Veiga não tenha recebido uma chance, mas vai dizer que o Brasil está jogando mal sem ele? Você pode não entender a ausência de Hulk, mas vai defender que o ataque da seleção está ruim?

"A América do Sul não é parâmetro." A Argentina meteu 3 a 0 na Itália campeã da Euro. A mesma Itália empatou com a Alemanha por 1 a 1. A França perdeu para a Dinamarca. A Bélgica foi goleada pela Holanda. Isso quer dizer alguma coisa sobre o que vai acontecer no Qatar? Absolutamente nada.

Não vou pedir para ninguém se iludir. Eu mesma mantenho os pés no chão. Mas só digo uma coisa: o Brasil (e Neymar) está(ão) mais pronto(s) para a Copa (e para o possível hexa) agora do que estava(m) há quatro anos.

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