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Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

O rei vai vivo

Enquanto Biden parecia ausente, Trump estava tragicamente presente no debate

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Para travar o combate decisivo contra uma perigosíssima ameaça à democracia e à liberdade, o Partido Democrata, nos Estados Unidos, escolheu um idoso de 81 anos.

O debate da última quinta entre o antigo presidente Trump e o atual Biden confirmou as minhas suspeitas: nutro aversão por ambos os candidatos.

O meu problema com Biden é que não entendo nada do que ele diz; o meu problema com Trump é que entendo tudo. Biden é velho e frágil, mas tendo em conta que Trump também tem 78 anos e é conhecido por ter proposto administrar uma injeção de desinfetante nos pacientes para curar a Covid, a fasquia para um debate deste tipo está, de partida, colocada muito em baixo.

O candidato que consiga fazer uma frase completa, dar a sensação de saber onde está, ou manter a boca fechada enquanto o outro fala, obtém uma vantagem importante. Infelizmente, Biden não foi capaz de cumprir nenhum desses objetivos. Resta agora aos democratas explicar-nos que o que vimos não aconteceu.

Como na história infantil, creio que vão tentar convencernos, não de que o rei vai vestido, mas de que o rei vai vivo. Enquanto Biden parecia ausente, Trump estava, tragicamente, mesmo muito presente. E expendeu argumentos como: "Neste momento há 10 mil milhões de guatemaltecos a atacar o memorial do Lincoln".

Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araújo Pereira de 30 de junho de 2024 - Folhapress

A eleição vai ser entre uma pessoa que parece ter abandonado o mundo dos vivos e outra que mantém alguma energia para dizer as coisas mais estapafúrdias, falsas, ou estapafúrdias e falsas. A certa altura do debate, Trump e Biden puderam expor ideias sobre uma das suas maiores clivagens ideológicas: qual deles é o melhor jogador de golfe. Biden alegou ser ele, mas Trump desmentiu-o categoricamente.

Costumo ser crítico da ideia de que deve haver mais mulheres na política porque elas exercem o poder de maneira diferente. Eu acho que deve haver mais mulheres na política porque elas têm tanto direito ao poder como os homens. E, como Thatcher, Le Pen, Meloni e Catarina, a Grande, entre outras, demonstram, elas exercem o poder do mesmo modo.

Mas aqui tenho de conceder que me é difícil imaginar um momento igual num debate entre duas mulheres.

Posto perante essa escolha, confesso que, se fosse americano votaria em Biden contra Trump. Mas devo acrescentar que até votaria num chimpanzé contra Trump. No caso concreto de Biden, creio que o fato de termos um presidente ininteligível traz vantagens no domínio da paz mundial. Para entrar em conflito com uma pessoa, primeiro é preciso entender o que ela diz.

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