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Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

Descrição de chapéu Apple

Circuitos fechados

Trabalhadores da Foxconn na China podem definir ritmo de retomada do Brasil em 2023

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O pleito dos trabalhadores da Foxconn, maior fornecedora da Apple na China, pode determinar o ritmo de recuperação da economia brasileira em 2023. A razão para isso? Se as fábricas chinesas fecharem, pressionarão ainda mais os preços de produtos industriais no mundo, e os juros ficarão altos por mais tempo ao redor do planeta.

A recente onda de inflação mundial tem três causas: disrupção de cadeias globais de suprimento (pela pandemia, pela Covid zero na China e pela Guerra da Ucrânia), ajuste das empresas a mudanças permanentes nos padrões de consumo e o efeitos acumulados de anos de política monetária frouxa, culminando nos trilhões de dólares "impressos" por bancos centrais durante a pandemia.

A inflação mundial começou a subir em 2021, mas até o início deste ano não havia consenso se ela seria temporária ou resistente. Os juros americanos de curto prazo estavam em 0,05% em janeiro, e os títulos de 30 anos pagavam somente 2% ao ano. Mas em março veio o primeiro choque do Federal Reserve, que desde então tem feito aumentos periódicos de cerca de 0,75 ponto percentual nos juros básicos da economia.

Fachada de fábrica da Foxconn, a maior fabricante de iPhones do mundo. - AFP

Em julho, os títulos com vencimento em um mês já estavam pagando 1,75%, e os de longo, 3%. Hoje, os juros de três meses estão em 4,75%, e os de 30 anos, em quase 4%, o dobro do começo do ano.

Ainda assim, os juros reais americanos estão negativos, com a inflação de 7,7%, maior que o retorno dos títulos públicos. O mundo hoje acompanha cada anúncio da inflação americana com suspense e medo, pois, se ela não baixar, o Fed vai continuar subindo os juros, com chances de jogar o mundo em uma recessão.

E isso nos traz de volta aos chãos de fábrica na China. Muitos trabalhadores estão insatisfeitos com a possibilidade de ter de trabalhar sob regime de circuito fechado, enquanto o país tenta lidar com o aumento dos casos de Covid, resultado do relaxamento de algumas regras da política de contenção do vírus. Há até pouco tempo, as autoridades chinesas eram claras: a prioridade era a política de Covid zero, custasse o que custasse. Por meses, fábricas em Xangai ficaram paradas, embora o governo local tenha conseguido manter o porto aberto. Como ele fez isso?

Os trabalhadores passaram a morar dentro da área do porto, não podendo ir para casa até que o lockdown, que durou cerca de 60 dias, acabasse. Isso valeu para todos os setores essenciais, incluindo empresas de água e energia.

Indústrias que quisessem continuar operando durante o lockdown teriam que pedir uma licença e conseguir que seus funcionários concordassem em ficar em isolamento até o relaxamento do lockdown. E, diferentemente do que pensam muitos brasileiros, ninguém é obrigado a aceitar. Alguns bancos pagaram diárias de R$ 800 para seus funcionários de TI ficar no emprego. Outras empresas ofereceram quatro vezes o salário para quem aceitasse trabalhar em regime de plantão.

Muitos lockdowns locais estão pipocando. Na China, não há direito de greve e sindicatos formais, mas há, como muita coisa no país, ações coletivas informais que pressionam empresas e autoridades locais. E é isso que está acontecendo. Funcionários da Foxconn querem melhores condições e maior salário para trabalhar em regime de circuito fechado. E isso vai se repetir em várias outras indústrias da China.

O desemprego no Brasil depende de circuitos fechados em fábricas chinesas via juros americanos. Não há melhor exemplo de globalização.

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