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EUA sobem juros pela 6ª vez em 2022; entenda riscos à economia

Alta de 0,75 ponto percentual tenta frear inflação histórica, mas amplia risco de recessão

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São Paulo

O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevou nesta quarta-feira (2) a sua taxa de juros pela sexta vez em 2022, sendo que este é o quarto aumento seguido de 0,75 ponto percentual. Agora, a taxa de referência dos Estados Unidos avança para um patamar entre 3,75% e 4% ao ano.

Sede do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, em Washington
Sede do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, em Washington - Chris Wattie - 22.ago.2018/Reuters


Jerome Powell, presidente do Fed, disse em entrevista à imprensa após a divulgação da taxa nesta quarta que "será apropriado reduzir o ritmo do aumento [dos juros]" em breve, mas destacou que o mercado de trabalho aquecido e, principalmente, a persistente alta da inflação obriga a autoridade a "manter a política restritiva [juros elevados] por algum tempo", comentou.

O ritmo de aceleração dos juros é o mais rápido no país em mais de quatro décadas e, além disso, antes de junho deste ano, a última vez que a taxa tinha subido em 0,75 ponto foi em 1994.

Essa sequência de aumentos, considerada muito agressiva para o padrão americano, acontece devido à necessidade de frear a maior inflação no país em mais de 40 anos.

O índice de preços ao consumidor americano acumula alta de 8,2% em 12 meses até setembro, depois de ter subido 8,3% em agosto e ter atingido um pico de 9,1% em junho, que foi o maior avanço do custo de vida desde novembro de 1981. São patamares muito superiores à meta de 2% para a inflação anual do país para 2022.

"Vamos manter o curso até que o trabalho esteja feito", afirmou Powell, ao reforçar que o objetivo é retornar à inflação de 2% ao ano.

Tornar o crédito mais caro é a maneira mais impactante adotada pela autoridade monetária para retirar dinheiro de circulação.

Essa é normalmente a principal medida adotada por bancos centrais na tentativa de frear a inflação que avança em diversas partes do mundo.

A aceleração dos preços em escala global teve início neste ano ainda como reflexo das falhas no abastecimento provocadas pela pandemia, problema que se agravou com a Guerra da Ucrânia.

Nos Estados Unidos, o comitê responsável pela política monetária do Fed, mais conhecido pela sigla Fomc, vem aprovando elevações da taxa do banco centraldesde março, quando o indicador estava praticamente zerado.

Existem receios, porém, de que o custo desse aperto monetário será uma grave desaceleração da atividade econômica em escala mundial.

Entre os efeitos de uma recessão estão a ausência de crescimento das empresas, aumento consistente do desemprego e queda exagerada do consumo.

Investidores reagiram mal às declarações de Powell e o mercado de ações dos Estados Unidos fechou o dia em forte queda.

O indicador parâmetro S&P 500 caiu 2,5%. No segmento focado em empresas de tecnologia e mais dependentes do crédito barato para crescer, representado pelo índice Nasdaq, o tombo foi de 3,36%. Houve ainda queda de 1,55% do Dow Jones, que acompanha 30 grandes companhias listadas em Nova York.

"Eles [integrantes do Fomc] têm que pensar em calibrar [a alta dos juros]. Você está tentando esfriar uma economia, não colocá-la em um congelamento profundo", criticou Diane Swonk, economista-chefe da KPMG, em entrevista ao The Wall Street Journal.

Sem perspectiva de crescimento das empresas, investidores tendem a abandonar os mercados de ações para buscar ganhos na renda fixa. A mais segura delas é a americana, onde os títulos do Tesouro tendem a ficar mais atraentes com os juros mais altos.

O movimento de dólares em direção à renda fixa americana também torna a moeda escassa em outros países.

Desde o início do ano, o dólar ficou 17% mais caro na comparação média com as principais moedas, segundo o índice DXY. No mesmo período, a Bolsa americana despencou 21%, de acordo com o S&P 500.

Para a próxima reunião dos formuladores da política monetária, marcada para os dias 13 e 14 de dezembro, existe a expectativa de uma pequena desaceleração no ritmo de aumento dos juros, afirmou o economista Étore Sanchez, da Ativa Investimento, após analisar o boletim desta quarta do Fed.

Sanchez disse que a estratégia do Fed é muito semelhante à adotada pelo Banco Central do Brasil. Ambos destacaram em seus comunicados recentes que as medidas de elevação de juros produzem efeitos com certo atraso quanto ao objetivo de frear a inflação e outros potenciais impactos na economia.

"O Fomc sinaliza que a velocidade de restrição [ao crédito] foi intensa e pode ser prudente uma desaceleração deste ritmo", comentou o economista, que espera que a próxima alta de juros, a última do ano, seja de 0,50 ponto percentual e, em fevereiro de 2023, suba apenas 0,25 ponto.

Como a renda fixa dos EUA fica mais vantajosa com a alta do Fed

Antes mesmo da própria alta dos juros de referência do Fed, é a expectativa de elevação dessa taxa que mexe com o rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Quando o mercado espera que a taxa irá subir, o rendimento aumenta e mais investidores resolvem usar seus dólares para comprar esses ativos.

Para entender isso, porém, quem não está familiarizado com mercado de juros precisa compreender antes a matemática por trás de uma frase repetida inúmeras vezes pelos especialistas: o rendimento sobe quando os preços dos títulos caem.

Quando investidores esperam que a taxa do banco central irá subir, eles vendem títulos derivativos dos juros de referência do país. Eles o fazem porque o valor desses papéis, que é previamente fixado até a data do vencimento, tende a ficar menos vantajoso em comparação à futura taxa do Fed.

Quem compra paga um preço menor do que o valor inicial do título. Mas esse papel continuará a oferecer o mesmo rendimento inicialmente contratado. O rendimento proporcional, portanto, fica mais alto.

Ou seja, se um título no valor de US$ 1.000 paga US$ 40 de retorno ao ano para o investidor, o rendimento anual dele é de 4%. Mas se ele é negociado no mercado por US$ 900, o novo dono desse título continuará recebendo US$ 40 ao ano até o vencimento. Nesse caso, porém, esses US$ 40 representam um rendimento de quase 4,5% sobre o preço de US$ 900. O rendimento subiu porque o preço caiu.

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