Siga a folha

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

O poder eunuco e inócuo

A decadência do Reino Unido é espantosa para quem viveu seus últimos tempos de apogeu

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Sim, ainda é a sexta economia do mundo, mas até quando? Os analistas indicam que o Reino Unido, com um crescimento pífio de 0,5% ao ano desde 2010, pode dar o lugar à Polônia. A idéia de que um trabalhador polonês terá renda maior que a de um inglês é espantosa para quem como eu, em meados dos anos 1950, ainda podia sentir o peso financeiro, político e cultural do Império Britânico. Era como se metade do mundo fosse sua colônia.

Quando se falava em literatura, os grandes nomes vivos eram de lá: Somerset Maugham, E.M. Forster, Aldous Huxley, Graham Greene, Daphne du Maurier. Agatha Christie era uma coqueluche mundial. P.G. Wodehouse, criador dos imortais Bertie e Jeeves, outra. E o pastoso A. J. Cronin, também. Mortos recentes e ainda presentes eram Virginia Woolf, George Orwell e Bernard Shaw. E as grandes escritoras logo estariam se impondo: Nancy Mitford, Muriel Spark, Doris Lessing.

Por causa do teatro e do cinema, todos sabiam de Noël Coward, Laurence Olivier, Alec Guiness, Rex Harrison, Dirk Bogarde. Diretores como Carol Reed, David Lean, Alexander Mackendrick e a dupla Michael Powell-Emeric Pressburger eram grandes favoritos dos críticos. E astros que julgávamos americanos eram ingleses: Chaplin, Hitchcock, Cary Grant, Bob Hope, Deborah Kerr, Elizabeth Taylor.

Na verdade, depois de Shakespeare, Sherlock Holmes e o Médico e o Monstro, os britânicos não tinham de produzir muito de novo para continuar mandando na cultura. Dizia-se até que, um dia, só haveria cinco monarcas no mundo: os reis do baralho e o da Inglaterra. A profecia se cumpriu.

Mas, com a Segunda Guerra e sem as colônias, a Inglaterra e sua rainha se tornaram sinônimos de um poder eunuco e inócuo. Nos anos 1960, exceto pelos Beatles, James Bond e a minissaia, o Reino Unido ficou desimportante. E, agora, com o Brexit, pode cair já em 2030 para a segunda divisão.

Livros da escritora britânica Agatha Christie, em edições da Pen Books nos anos 50 - Heloisa Seixas

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas