Violência em protestos na França força rei Charles 3º a adiar visita

Atos mais recentes terminaram com 457 manifestantes detidos e 441 agentes de segurança feridos

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Paris | AFP e Reuters

A escalada da violência dos protestos contra a reforma da Previdência na França forçou o adiamento de uma viagem do rei Charles 3º, que estava programada para os próximos dias.

A decisão, divulgada nesta sexta-feira (24), foi um pedido do presidente Emmanuel Macron atendido pelo Palácio de Buckingham e se deu depois de sindicatos franceses convocarem uma nova mobilização nacional na próxima terça-feira (28), data em que o monarca britânico ainda estaria no país.

O então princípe Charles e o presidente da França, Emmanuel Macron, conversam após cerimônia em Londres - Tolga Akmen - 18.jun.20/AFP

De acordo com o Ministério do Interior, os atos de quinta-feira (23) resultaram em, ao menos, 441 membros das forças de segurança feridos e 457 manifestantes detidos.

O chefe da pasta, Gérald Darmanin, afirmou em entrevista ao canal CNews que só em Paris foram contabilizados 903 focos de incêndio, muitos deles iniciados após participantes das manifestações atearem fogo às pilhas de sacos de lixo acumuladas nas ruas em quase 20 dias de greve dos garis.

As chamas chegaram a se espalhar para quiosques comerciais e até para uma casa no bairro da Ópera de Paris.

Também na capital, os protestos ainda contaram com a presença de black blocs, que saquearam um McDonald’s e destruíram diversos pontos de ônibus. No total, foram registrados cerca de 300 manifestações em todo o território, reunindo entre 1 milhão e 3,5 milhões de pessoas —estimativas do governo e dos sindicatos, respectivamente.

"Não faz sentido receber o rei Charles em meio a mobilizações nacionais", disse Macron após uma cúpula da União Europeia em Bruxelas nesta sexta. "Não vamos ceder à violência. Continuaremos avançando. A França não pode ficar presa em um impasse", acrescentou o líder centrista.

Também nesta sexta, o Conselho da Europa, órgão regulador de direitos humanos no continente, criticou o "uso excessivo da força" pela polícia francesa durante as manifestações no país.

"Ocorreram incidentes violentos, incluindo alguns direcionados às forças da lei e da ordem", disse Dunja Mijatovic, comissária de direitos humanos do Conselho. "Mas os atos esporádicos de violência de alguns manifestantes e outros atos condenáveis de outros durante um protesto não podem justificar o uso excessivo da força por agentes do Estado", justificou.

O alvo da fúria popular foi, ao menos em parte, o próprio Macron. Seu pronunciamento na quarta-feira (22), em que comparava a destruição nos atos em seu país à invasão do Capitólio nos EUA e às depredações golpistas de Brasília no 8 de Janeiro, só aprofundou a revolta dos franceses, assim como sua opção por recorrer ao artigo 49.3 da Constituição para aprovar a reforma sem que ela precisasse ir à votação na Assembleia Nacional.

O dispositivo constitucional, de baixa densidade democrática, foi uma aposta radical do governo diante das incertezas sobre a votação na Casa de uma reforma considerada crucial para as finanças públicas e para a agenda reformista do presidente.

Macron esperava que a viagem do rei Charles, a primeira ao exterior desde que o britânico ascendeu ao trono, marcasse o início de um novo capítulo das relações de sua nação com o Reino Unido após anos de tensão pós-brexit.

O itinerário incluía eventos no Museu D’Orsay e no Arco do Triunfo, além de um banquete no Palácio de Versalhes antes de Charles viajar a Bordeaux, cidade no sudoeste famosa por suas vinícolas e cuja sede da prefeitura teve sua enorme porta de entrada incendiada na noite de quinta.

Portão da prefeitura de Bordeaux, no sudoeste da França, carbonizado após manifestantes atearem fogo nele durante protestos contra a reforma da Previdência - Philippe Lopez - 23.mar.23/AFP

Em comunicado, o governo francês afirmou que a decisão de adiar a visita foi tomada em conjunto com o governo britânico e tem como objetivo acolher o monarca em "condições que correspondam à nossa relação amigável".

A administração acrescentou que ela será remarcada assim que possível —em Bruxelas, Macron afirmou que sugeriu como nova data o início do verão europeu, em junho.

Uma fonte do Palácio de Buckingham disse à Reuters que a viagem de Charles para a Alemanha, a princípio a segunda parada do tour europeu, está mantida.

A reforma da Previdência francesa eleva a idade mínima para aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030, e aumenta os anos de contribuição para acesso à pensão integral de 42 para 43 anos, já a partir de 2027. O texto está agora sob avaliação do Conselho Constitucional, que deve divulgar seu parecer no início da semana que vem. Ele pode rejeitar o projeto, total ou parcialmente, ou aprová-lo —cenário no qual a reforma entra em vigor até o final do ano.

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