Siga a folha

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

Os dilemas do banco central dos Estados Unidos

Fed caminha em fio de navalha em busca de um pouso suave da economia

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Em dezembro do ano passado, argumentei que o banco central americano, conhecido por Federal Reserve, ou simplesmente Fed, iria parar o ciclo de elevação de juros em algum momento de 2019.

O motivo eram os riscos de o Fed ter de enfrentar uma desaceleração mais intensa ou até uma recessão da economia.

Dado que a sua taxa básica de juros estava (e está) muito baixa, não há muita munição —isto é, espaço para baixar juros, já que existe o limite inferior de zero— para se contrapor a uma recessão.

Banco central americano cortou juros pela primeira vez em mais de dez anos - Brendan McDermid/Reuters

Assim, faz sentido o Fed ser muito cauteloso no processo de “normalização das condições monetárias” e ficar atrasado na política monetária: há munição de sobra para enfrentar uma eventual aceleração da inflação (basta subir os juros, e, para isso, não há limite).

De fato, não somente o Fed parou o processo de subida dos juros básicos como, na reunião de 31 de julho, reduziu as taxas do intervalo de 2,25% a 2,5% para 2,0% a 2,25%. Decisão difícil, com dois votos contrários entre dez votantes.

Além do balanço de riscos que indica que o Fed deveria ficar atrasado no ciclo monetário, dois fatores pesaram na decisão. Primeiro, a percepção de que a guerra comercial tem efeito líquido desinflacionário: o aumento das tarifas produz alta temporária da inflação, mas reduz muito o investimento mundo afora. O efeito líquido é diminuir a demanda e a inflação no médio prazo.

O impacto da guerra comercial no investimento resulta dos seus efeitos sobre a globalização. A segunda globalização —aquela que se iniciou no pós-guerra (a primeira vigorou entre o fim das guerras napoleônicas e o início da Primeira Guerra Mundial)— difere da primeira pela existência de um fortíssimo comércio de insumos intermediários.

O processo produtivo de um bem final ocorre em diversas etapas, em diferentes locais e países. A guerra comercial ofusca o cálculo empresarial. Onde localizar o investimento? Não se sabe, não se investe.

O segundo fator que tem pesado para a decisão do Fed foi a desaceleração experimentada pelos EUA e pelas economias centrais, zona monetária do euro e China, desde o segundo semestre do ano passado.

No entanto, as dúvidas são muitas. O mercado de trabalho americano continua a melhorar, com alguns sinais de que salários já estão a se mover. Além disso, o acompanhamento dos indicadores sinaliza que a economia deve fechar o ano rodando a 2% ou um pouco mais.

O risco de ficar por demais atrasado no ciclo monetário —e este ponto não abordei na coluna de dezembro— é o mercado se convencer de que os juros neutros de longo prazo são muito baixos.

Se houver essa percepção, como já tem ocorrido, o preço dos ativos subirá, como de fato têm subido. O preço da ação de uma empresa é dado pela comparação entre a receita futura e o custo de capital. Se este está muito baixo, o preço da ação subirá.

O risco é alguma elevação abrupta da inflação alterar rapidamente essa percepção do mercado financeiro. Nesse caso, os operadores do mercado passarão a considerar que o juro básico no longo prazo será maior. Haverá rápida queda dos preços dos ativos, que pode precipitar uma desorganização dos mercados.

O BC americano caminha nesse fio de navalha em busca de um pouso suave da economia, com crescimento dado pelo potencial, algo em torno de 1,8% ao ano, inflação na meta de 2% ao ano e sem rupturas no mercado de ativos.

Penso, portanto, que o ciclo de queda dos Fed Funds será menor do que os cinco cortes de 0,25 ponto percentual que o mercado financeiro prevê até dezembro de 2020. 

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas