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Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

'Indústria Americana' faz chineses pensarem relação com EUA sob ótica dos americanos

Documentário vencedor do Oscar mostra tensões que surgem do convívio em fábrica

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No interior dos EUA, um bilionário chinês investe numa fábrica de vidros automotivos. Usa instalações de uma antiga planta da General Motors e contrata parte dos trabalhadores demitidos quando a fábrica fechou. E traz outros tantos da China.

Vencedor do Oscar de melhor documentário, “Indústria Americana” mostra os contrastes, o estranhamento e as tensões que surgem do convívio entre chineses e americanos na fábrica da Fuyao, em Ohio. O filme tem o mérito de traduzir a complexidade das relações China-EUA para a vida das pessoas. O documentário naturalmente despertou interesse em todo o mundo. Pouco se disse, no entanto, sobre a reação ao filme na China.

Em primeiro lugar, a Netflix não está disponível no país, e o documentário chega de maneira informal. Apesar disso, a imprensa chinesa e as mídias sociais estão repletas de análises.

Tal como no resto do mundo, o abismo cultural que separa chineses e americanos gerou um misto de fascínio e perplexidade no país asiático. Acostumada a críticas de que a informação na China é controlada, a imprensa local deu destaque ao acesso irrestrito que os documentaristas —americanos— tiveram ao comando da empresa chinesa, ao funcionamento da fábrica e aos seus empregados. 

Tiveram liberdade para contar o que quiseram. O resultado incluiu cenas pouco lisonjeiras à liderança corporativa chinesa, como acidentes de trabalho.

A imprensa chinesa aproveitou para lembrar da guerra comercial. Em alguns casos, notícias do longa foram usadas para transmitir a mensagem oficial de que as economias são interdependentes e que tensões comerciais trazem prejuízos a ambas. 

Não passou despercebido pela mídia que um investimento chinês contribuiu para reativar instalações abandonadas, gerar empregos nos EUA e levar tecnologia ao país. O jornal Xinmin Evening News publicou o artigo “‘Indústria Americana’: separe a economia americana da China, e os EUA vão à falência”.

O tom ufanista também marca comentários nas redes. Numa sociedade em que trabalho é altamente valorizado, vários foram ao Weibo, equivalente ao Twitter, para reforçar a visão de que eles realmente trabalham duro (e, diretamente ou não, de que os americanos são preguiçosos, estereótipo comum no país).

Mas há muitas mensagens que refletem sentimentos ambivalentes em relação aos impactos da globalização sobre a vida das pessoas. Várias têm uma pitada de autocrítica, especialmente em relação às condições de trabalho e à cultura corporativa na China. Alguns compartilham preocupações sobre o futuro do trabalho diante do avanço da automação e da tecnologia.

O documentário fez chineses pararem para pensar sobre a relação entre China e EUA sob a ótica das pessoas do outro lado. 

Um internauta comentou: “o sentimento é muito complicado. Eu ainda valorizo quão comprometidos e organizados nossos trabalhadores chineses são, mas, por outro lado, também me solidarizo com os trabalhadores americanos que estão pedindo mais direitos e proteção”.

O comentário foi postado num site onde o filme estava disponível e de onde foi visto mais de 700 mil vezes, segundo a Bloomberg.

“Indústria Americana” abraça a ideia de que nem toda a história tem mocinhos e bandidos e de que o final feliz não é garantido. Ao humanizar o tema, o documentário tem o mérito de convidar um lado a se colocar no lugar do outro e de permitir que ambos vejam o que também os aproxima.

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