Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Coronavírus mostra que cooperação internacional é mais útil do que patriotadas

Com frequência, atuar em conjunto é a melhor maneira de servir ao seu próprio interesse

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Tal como o novo coronavírus, as notícias sobre ele se espalham com rapidez. Aumento do número de casos, cidades isoladas, voos cancelados, hospitais construídos às pressas.

A universidade onde trabalho agora me informa que não há data prevista para a volta às aulas.

A dose diária de desdobramentos ruins dificulta o exercício de tomar distância do problema e tirar lições desta grande crise.

Passageiros usam máscaras ao desembarcar, em Los Angeles, de voo vindo da Ásia - Mark Ralston/AFP

Quando a poeira baixar, um dos ensinamentos há de ser sobre a importância da cooperação internacional para fazer frente a problemas como este, incluindo para a busca de soluções e para a contenção do avanço global do vírus. 

No mínimo, essa crise teria que servir para mostrar que instituições que favorecem atuação coordenada não podem ser descartadas como devaneios globalistas

Para isso, a Organização Mundial da Saúde tem que estar à altura do desafio. A entidade vinculada à ONU foi criticada pela atuação na epidemia do ebola em 2014-2016, especialmente pela demora em agir.

A OMS tem agora uma chance de mostrar seu valor. Deve conseguir galvanizar esforços da comunidade internacional. 

Deve contribuir para que a avaliação de risco seja feita com bases científicas, evitando tanto o pânico desnecessário quanto a complacência indevida, ambos prejudiciais no combate à crise. 

A cooperação é via de mão dupla e, portanto, é fundamental que a China esteja comprometida em colaborar com a comunidade internacional. O país terá aprendido com a experiência do combate ao Sars, em 2002-2003, quando foi criticado pela falta de transparência e engajamento. 

A China sabe que sua reputação internacional será influenciada pela maneira como administra esta nova crise. Sua condição de nova potência aumenta suas responsabilidades internacionais e seu discurso em favor da cooperação e do multilateralismo será posto à prova.

Se a crise climática já não fosse suficiente para convencer alguns da necessidade de cooperação, pandemias, terrorismo, tráfico de drogas e outros desafios transnacionais deveriam ajudar. 

Os incêndios na Austrália provocam fumaça no Rio Grande do Sul. A lavagem de dinheiro num canto do planeta financia o terrorismo em outro. O novo coronavírus já atinge ao menos outros 15 países.

O surto também cobra um preço da economia global. É um problema para quem esperava contar com um pouco mais de estabilidade e de menos incerteza no cenário internacional. Para quem gostaria de ver em 2020 um crescimento global mais robusto. Ou seja, para o mundo todo. 

Isso tudo obviamente sem falar no drama humano e social de todos os chineses, gente de carne e osso —um aspecto a que muitos fora do país não dão o valor devido, preocupados apenas com o risco de o vírus chegar onde estão.

A verdade é que ninguém resolverá o problema sozinho e todo o mundo sentirá seus efeitos.

Em setembro de 2019, justamente na sede da ONU, Donald Trump proclamou que o futuro não pertence aos globalistas, mas sim aos patriotas. 

O presidente americano não está sozinho ao fazer pouco caso da cooperação internacional. 

Uma eventual pandemia global pode ser um lembrete amargo de que problemas globais não se resolvem na base da patriotada e que, com frequência, cooperar com outros é a melhor maneira de servir ao seu próprio interesse.

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