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Jornalista e escritor, é autor de "Carolina, uma Biografia" e do romance "Toda Fúria"

Com ordem e justiça, é preciso punir os lunáticos do golpe

Mas punir todos, não só os 'buchas' acampados sob sol e chuva

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As ações criminosas do último domingo, dia 8, em Brasília, não foram apenas um ataque a Lula e ao PT; foram, acima de tudo, ataques à República. Os vândalos, os anarquistas da nova ordem estabelecida, os fascistas, os terroristas, os derrotados eleitorais, os baderneiros e os golpistas de última hora, todos juntos e misturados, encenaram o maior espetáculo bufo-cômico, ao mesmo tempo trágico, da história do país e do bolsonarismo.

Sem qualquer pestanejo, o governo atual precisa, inteligentemente, monitorar essa turma aloprada e comprada, a baixo custo, pelos aliados do governo extinto pela democracia e pelas urnas eletrônicas, os chamados "empresários do golpe" – principais financiadores dessas barbáries, quebra-quebras, roubos e danos à imagem da nação e ao patrimônio público de todos os brasileiros.

Guardadas as devidas proporções, a história do Brasil está eivada de tentativas de golpes –poucas vezes bem-sucedidos– e de golpistas de ocasião.

A República, por exemplo, nasceu assim, em 1889 –iniciada por um rancoroso militar, Deodoro da Fonseca. Os rancores não só patrocinaram como fizeram vistas grossas, deram guarida e resguardaram os malfeitores para o sucesso e esperaram, como servidores públicos do caos, o circo pegar fogo.

Mas é preciso, senhor presidente, pôr as barbas de molho –tudo o que o imperador Pedro 2° não fez pelo seu trono e foi deposto e humilhado.

Nas correlações do poder com a história, não se deve desprezar em nada o inimigo, ainda mais quando se tem envolvida alguma massa popular, maus políticos e empresários desonestos com a ordem fiscal e a vida econômica brasileira.

Foi assim em 1930, quando Getúlio Vargas, insatisfeito com a derrota imposta pelo adversário Júlio Prestes, deu o golpe de Estado que praticamente o perpetuaria no poder e na história do país para sempre.

Não foi muito diferente em 1964, com João Goulart, deposto pelos militares, com apoio dos mesmos tipos de empresários e dos honestos "homens de bens".

A história se repete como farsa, Karl Marx já disse no século 19, mas não custa nada lembrar aqui e agora o seu famoso recadinho.

Outro ponto importante é a pauta do movimento invasor, que tem como base o terrorismo e a pilhagem, com impactos sem precedentes ao patrimônio histórico e artístico nacional.

Entre todos os destaques, o ataque criminoso à obra do pintor carioca Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976). Além de ter sido grande artista, ele foi um dos principais mentores da Semana de Arte Moderna, ao lado do poeta Mário de Andrade.

Di Cavalcanti também teve papel histórico na vida social brasileira, não só por suas valiosas obras de artes, como as pinturas, gravuras, ilustrações e inúmeros trabalhos literários: ele era sobrinho de Maria Henriqueta de Sena, esposa do jornalista José do Patrocínio, um dos homens mais importantes da luta abolicionista brasileira.

Técnicos verificam a tela "Mulatas", pintada em 1962 por Di Cavalcanti, que foi vandalizada pelos golpistas durante invasão ao Palácio do Planalto no domingo (8) - Gabriela Biló - 9.jan.2023/Folhapress

Quando faleceu, na cidade do Rio de Janeiro, o artista teve o velório filmado pelo cineasta do Cinema Novo Glauber Rocha. Mesmo polêmico, o filme ganhou o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes e entrou na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema como um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos, em 2015.

Por essas e outras, é que devemos combater o mal pela raiz. Atos como os de domingo em Brasília não podem ser mais tolerados na história do país –que tem uma Constituição Cidadã e elegeu um presidente dentro de um processo eleitoral transparente e reconhecido pelo mundo.

Para isso, alguns passos precisam ser dados, além dos já amplamente divulgados pela imprensa. Com ordem e justiça, punir todos os responsáveis, mas não só os "buchas" acampados sob sol e chuva. Por trás deles há empresários e políticos inescrupulosos, que aplaudiram, nos últimos quatro anos, os desvarios golpistas do seu principal líder, que se refugiou célere no exterior, abandonando aqui um bando de lunáticos, que até ontem viviam nas portas dos quartéis ou orando, de joelhos, diante de velhos pneus.

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