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Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Extrema direita pode levar governo da Itália

País não cresceu desde 2000, tem a 2ª maior dívida da eurozona e vota em setembro

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Desde a Segunda Guerra, a Europa ocidental jamais elegeu um governo de extrema direita. É o que pode acontecer na eleição de setembro na Itália.

O partido mais popular é, por ora, o Irmãos da Itália, liderado por Giorgia Meloni, com 23% das preferências, segundo o agregador de pesquisas do site Politico. É uma organização de origem francamente fascista, que vem tentando limpar sua barra, à maneira de Marine Le Pen na França.

O Partido Democrático, de centro-esquerda, está quase empatado com o Irmãos da Itália. Mas, a seguir, vem a afascistada Liga, de Matteo Salvini, com 15%, os palhaços demagógicos do Cinco Estrelas, com 12%, e a direita bunga bunga do Força Itália, com 8%, de Silvio Berlusconi, 85 anos, ainda na ativa, um líder da derrubada do governo de união nacional de Mario Draghi.

Matteo Salvini, da Liga, Giorgia Meloni, do Irmãos da Itália, e o ex-premiê Silvio Berlusconi em encontro em Roma - Guglielmo Mangiapane - 20.out.21/Reuters

Dos partidos maiores, apenas o Irmãos da Itália não estava na coalizão. Meloni, Salvini e Berlusconi juntam, pois, 46% das preferências. Sim, agregadores de pesquisas têm problemas, e preferências partidárias podem não dizer tudo sobre o resultado de uma eleição parlamentar. Mas estudos baseados em pesquisas de opinião indicam o favoritismo do trio, por ora aliado.

O Irmãos da Itália saiu das entranhas do Movimento Social Italiano (MSI), o partido do pós-guerra que recolheu o lixo sobrevivente da turma de Mussolini. Giorgia Meloni, 45, romana, de origem pobre, agora "celebridade", começou a carreira como líder da juventude do MSI.

Hoje em dia, tenta se enturmar com a internacional de direita que junta de Donald Trump a Viktor Orbán, autocrata da Hungria. É amigona do Vox, o ultradireitista espanhol, embora seu partido não faça parte da bancada de Le Pen no Parlamento Europeu.

É contra imigrantes, casamento homossexual, adoção de crianças por LGBTs, "ideologia de gênero", a favor de governo menor, o pacote todo. Já foi eurocética, mas tem moderado a crítica. Um motivo recente é que a Itália, ao lado da Espanha, é o país que pode receber a maior fatia dos € 807 bilhões do fundo europeu de reconstrução pós-Covid, desde que cumpra certos requisitos, "reformas", que vinham sendo tocadas por Draghi.

Draghi foi presidente do Banco Central Europeu, um tecnocrata capaz e decente, mas um tecnocrata. Chegou ao cargo sem passar por eleição, embora fosse o político mais popular do país até cair, em parte por falta de jogo de cintura.

Na barafunda italiana, é difícil dizer quais coalizões eleitorais e de governo vão se formar. De resto, dada a situação econômica do país, talvez a ultradireita se comporte.

A incerteza política pode encarecer o financiamento da enorme dívida do governo, 151% do PIB, menor apenas que a da Grécia (193%). A renda (PIB) per capita da Itália cresceu apenas 1,2% desde o ano 2000, o pior desempenho da eurozona.

O Banco Central Europeu quer evitar crise parecida com a de 2012, agora que começa a aumentar a taxa de juros a fim de controlar a inflação. Indicou que tem um plano para evitar uma explosão dos juros cobrados de governos como o da Itália (o que, no fim das contas, é um subsídio). Com vinagre pelo nariz, um governo pode se aproveitar dessa situação, desde que não apronte muito (vide, porém, como Orbán avacalha a União Europeia).

Pode ser que, na campanha, a ultradireita pague parte do preço de ter derrubado um primeiro-ministro que deu alguma estabilidade ao país. Estabilidade, mas não um caminho. Mais e mais, tecnocracias centristas impopulares ganham eleições apenas porque a alternativa é a horda autoritária. O buraco desta crise está muito mais para baixo, nos EUA, na Europa e no Brasil também.

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