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Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

Ainda é muito cedo para falar de LA?

Autorreferente compulsiva, a indústria cinematográfica sempre usou a cidade como cenário

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Da sacada de uma luxuosa suíte do Chateau Marmont, ali mesmo no Sunset Boulevard, era possível ver Chris Martin brincando com a filha, ainda bebê, enquanto Gwyneth Paltrow dava o mergulho na piscina principal do icônico hotel e o empresário do Coldplay me informava que o vocalista, o próprio Martin, estava indisposto para dar a entrevista marcada semanas antes.

A ironia da cena bizarra condizia com o espírito rock n’ roll de Los Angeles, que visitei inúmeras vezes, quase todas para encontrar astros da música pop. Sim, L.A., ou "él-êy", é mesmo uma cidade rock n’ roll.
Não foi à toa que, domingo passado, para receber de Paris a bandeira dos Jogos Olímpicos, magicamente conduzida em segundos pelo Atlântico por Tom Cruise na festa de encerramento do impecável evento francês, num canto de Venice Beach estavam ninguém menos que os caras do Red Hot Chili Peppers.

Billie Eilish, nativa de L.A., veio na sequência, virando o clima com seus sons sutis. E depois Snoop Dogg, outro filho da cidade, o primeiro expoente do que se chamou no início dos anos 90 de hip-hop da costa oeste, uma resposta à então hegemonia de Nova York nesse gênero musical. Seu padrinho, Dr. Dre, o acompanhou de maneira jubilante.

Red Hot Chili Peppers fazem show para divulgar os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 - Reprodução/TV Globo

Talvez com um certo ciúmes de Los Angeles sediar pela terceira vez os jogos, um crítico do jornal The New York Times alfinetou nos comentários ao vivo da transmissão de encerramento: depois de Paris, do rio Sena, da Torre Eiffel, do Palácio de Versalhes, tudo que a próxima sede tem a oferecer é um punhado de palmeiras e um cantinho de praia semi-deserta?

A rivalidade entre Nova York e Los Angeles é antiga e tola. Ambas cidades, é claro, têm mil motivos para serem admiradas, embora eu ache que o charme de L.A. custe um pouco mais a nos conquistar.

Para quem já está fazendo planos para estar lá em 2028, fica o aviso: esta é uma cidade incrível, mas que não foi feita para pedestres. Sim, há sempre alguém pelas ruas, especialmente nos quarteirões mais concorridos da calçada da fama, onde há décadas astros e estrelas de Hollywood são homenageados. Mas é indiscutível que L.A. foi feita para carros.

Minha primeira lembrança da cidade é de dentro de uma van, quando eu tinha nove anos e fui conhecer a tímida Disneylândia —o gigante Walt Disney World, em Orlando, estava apenas nascendo. "Pela janela, quem é ela?", perguntaria anos depois Adriana Calcanhoto, me conectando com esse registro automotivo.

E parte de seu mistério tem a ver com a cidade viver sobre quatro rodas. No filme mais recente do diretor Quentin Tarantino, "Era uma vez em Hollywood", o belíssimo plano-sequência da abertura começa no para-brisas de um carro e segue pela cidade no veículo.

Autorreferente compulsiva, a indústria cinematográfica sempre usou a cidade como cenário, de "Crepúsculo dos Deuses" a "Babilônia". Mas esse mesmo caldeirão cultural também fez a cidade ser um imã de excelentes artistas e bandas. Uma lista curta: Beach Boys, The Doors, Frank Zappa, Guns n’ Roses, Metallica, Van Halen, os meninos do Red Hot Chili Peppers... E ainda The Black Eyed Peas, No Doubt, System of a Down, Maroon 5... Fora os inúmeros ídolos que entrevistei lá no início dos anos 90, nas premiações do Video Music Award da MTV americana.

Horas e horas por aquelas ruas para falar com talentos do mundo inteiro, como o vocalista inglês do Coldplay, minha missão naquela tarde no Chateau Marmont. Chris Martin não saía da piscina. O empresário da banda me ofereceu o baterista. Gravei por gentileza. Nunca foi ao ar. Algo bem rock n’ roll.

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