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Indústria e Senai se unem em mutirão para manutenção de respiradores para tratar pacientes com Covid-19

Rede voluntária conta com ArcerlorMittal, Fiat Chrysler Automóveis (FCA), Ford, General Motors, Honda, Jaguar Land Rover, Renault, Scania, Toyota e Vale

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São Paulo

O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e dez representantes da indústria se uniram para realizar a manutenção de respiradores mecânicos que estão sem uso, a fim de ajudar no tratamento de pacientes com Covid-19.

A rede voluntária conta com 25 pontos de manutenção, a partir desta segunda (30), dos quais dez são unidades do Senai e 15 estão em plantas das seguintes empresas: ArcerlorMittal, Fiat Chrysler Automóveis (FCA), Ford, General Motors, Honda, Jaguar Land Rover, Renault, Scania, Toyota e Vale.

Os pontos da iniciativa Manutenção de Respiradores estão presentes em 13 estados: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte , Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Os endereços dos locais podem ser acessados no Portal da Indústria (ou na lista completa abaixo).

Paciente com Covid-19 se voluntaria para testar o respirador desenvolvido pelos engenheiros mecânicos e biomédicos da University College London (UCL), no Reino Unido - James Tye - 30.mar.2020/AFP

Esse é um dos exemplos da mobilização capitaneada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), junto ao poder público e a sua rede no combate ao novo coronavírus.

"Nossa prioridade número 1 neste momento é cuidar da saúde e preservar a vida das pessoas, seguindo sempre as diretrizes da Organização Mundial da Saúde", diz diz Robson Braga de Andrade, presidente CNI. "É também crucial que seja feito um planejamento bem consistente, com vistas à retomada da produção, ainda que de forma gradual, para minimizar os efeitos da crise e permitir a sobrevivência das empresas e a manutenção dos empregos."

Estima-se que mais de 3,6 mil ventiladores pulmonares estão fora de operação no Brasil –ou porque foram descartados ou têm necessidade de manutenção, de acordo com a LifesHub Analytics e a Associação Catarinense de Medicina (ACM).

Segundo os dados, existem 65.235 desses equipamentos no país, sendo 17.837 na rede privada e 47.398 no Sistema Único de Saúde (SUS). Os respiradores mecânicos são essenciais no tratamento de doentes que apresentam sintomas graves da Covid-19, pois a Síndrome Respiratória Aguda Grave é um dos efeitos mais sérios da doença.

A estimativa é que cada ventilador recuperado poderá atender até dez pessoas.

Além da manutenção, o Senai tem iniciativa para ampliar a oferta do número de ventiladores pulmonares, aumentando a produção nacional. Foram identificados dois fabricantes, que manifestaram interesse em ampliar a produção, mas relatam obstáculos como a dificuldade na aquisição de componentes.

Há uma iniciativa para fortalecer a cadeia de fornecedores e oferecer os componentes necessários. Outros fabricantes estão sendo identificados e contatados para que o Senai possa ajudá-los a superar as barreiras existentes e elevar a produção no Brasil.

“Esta é uma agenda extremamente importante dado o cronograma crítico da Covid-19 e a necessidade determinante de ter o maior número de equipamentos com prontidão, em funcionamento”, afirma o diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi.

Outra linha de ação é a importação de equipamentos. Na semana passada, a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), em parceria com o governo do estado, indústrias e instituições catarinenses, fechou contrato para a importação de 200 respiradores destinados ao sistema de saúde.

A rede do Senai de Inovação e de Tecnologia trabalha ainda para desenvolver produtos inovadores que ajudem a suprir a carência de equipamentos.

Por meio do Edital de Inovação para a Indústria, foi selecionado projeto da empresa Aredes Equipamentos Hospitalares, com apoio do Instituto Senai de Inovação em Sistemas de Manufatura (SC), que vai adaptar ventiladores pulmonares da área veterinária para uso humano. O equipamento em versão simplificada poderia ser utilizado por pacientes na fase inicial, evitando o agravamento da doença.

O ventilador será projetado, fabricado e testado na rede do Senai. Após a homologação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a expectativa é de produção de mil unidades por mês.

O Senai colocou sua rede de 27 Institutos de Inovação e 60 Institutos de Tecnologia a serviço do combate ao novo coronavírus. O Edital de Inovação para a Indústria está recebendo propostas de soluções contra os problemas causados pelo vírus que tenham aplicação imediata e com resultados em até 40 dias.

Em uma primeira chamada, já foram investidos R$ 10 milhões, em parceria com o SESI (Serviço Social da Indústria), para para contemplar projetos que ajudam a prevenir, diagnosticar e tratar a Covid-19 e seus efeitos, como a fabricação de mais respiradores mecânicos e o desenvolvimento de testes rápidos de detecção. Nesta segunda-feira (30), um novo edital de R$ 20 milhões foi lançado, para uma segunda seleção de projetos.

Os novos recursos foram disponibilizados da seguinte forma: mais R$ 5 milhões pelo Senai, R$ 10 milhões pela Empresa Brasileira de Pesquisa (Embrapii) e R$ 5 milhões pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). As inscrições podem ser feitas no site www.editaldeinocvacao.com.br "A parceria com a Embrapii e a ABDI vai ampliar o escopo e a capacidade de contemplar projetos de excelência", diz Lucchesi.

Há um engajamento notável das empresas e das entidades da indústria em contribuir com os esforços no combate à pandemia. Há empresários e empresas que, por exemplo, têm doado respiradores a hospitais públicos de seus estados. Empresas estão redirecionando suas linhas de produção, quando possível, para produzir e fornecer insumos essenciais, como máscaras e aventais, álcool 70% ou realizar a manutenção de equipamentos de respiração que estejam quebrados.

A União da Indústria de Cana-de-Açucar (UNICA), por meio de suas associadas, anunciou a doação de um milhão de litros de álcool gel e álcool 70 para o SUS.

Desde a última semana, as ações da indústria se intensificaram em todo o Brasil. No Ceará, o SESI doou R$1 milhão para a Secretaria de Saúde estadual adquirir equipamentos para atender os pacientes com Covid-19. A ação fez parte do engajamento de empresários locais, que juntaram R$ 5 milhões para ajudar o estado.

Ação semelhante ocorreu em Pernambuco, onde cerca de 80 representantes da iniciativa privada, entre eles diversos membros da Federação de Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE), se uniram para arrecadar recursos e comprar equipamentos para hospitais do estado.

Em São Paulo, cidade com o maior número de casos confirmados até o momento, a Ambev, a Gerdau e o Hospital Albert Einstein se aliaram à Prefeitura de São Paulo para construir um novo Centro de Tratamento para a Covid-19, com cem leitos que atenderão o público exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Será um anexo do Hospital Municipal M’Boi Mirim – Dr. Moysés Deutsch, na zona sul da cidade. Os primeiros 40 leitos serão entregues em apenas 20 dias – até o fim de abril serão cem. A unidade de saúde, posteriormente, será integrada à rede pública de saúde do município.

Em Santa Catarina, um grupo de empresas, lideradas pela Federação de Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), importou 200 respiradores mecânicos, em parceria com o governo do estado. É o primeiro resultado prático do programa + Respiradores, uma iniciativa da Rede Senai de Institutos de Inovação. Os equipamentos serão doados ao SUS. O grupo que engloba a MRV, Banco Inter e LOG CP anunciou a compra no valor de R$ 10 milhões em respiradores mecânicos para a rede hospitalar do estado de Minas Gerais, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).

Como manter o abastecimento

Em paralelo às ações de combate ao coronavírus, a CNI trabalha no desafio número 2, que é o de evitar demissões, manter a produção de itens essenciais e planejar a retomada da produção. Para evitar que as consequências sejam ainda piores lá na frente, as estratégias utilizadas têm sido a utilização de banco de horas, férias coletivas, redução de jornada e salário proporcional às horas trabalhadas. "É importante dar a sinalização de que não haverá demissões", diz Andrade.

O outro grande desafio é manter a saúde mínima das finanças das empresas. Com queda nas encomendas e dificuldades de se obter insumos, em certos casos, é evidente a dificuldade de se pagar salários, impostos e fornecedores. "Por isso propusemos ao governo que se postergue – não cancele – a cobrança de tributos por um tempo, para que as empresas tenham um alívio para atravessar o período mais agudo da crise, diz o presidente da CNI.

Entre as ações de maior relevância até o momento, ele destaca a flexibilização das regras fiscais. "Pelo decreto de calamidade pública, é medida indispensável para que o governo federal possa ampliar gastos e fortalecer o sistema de saúde público. O bom funcionamento e o adequado financiamento da rede pública será essencial para mitigar os efeitos da pandemia sobre a economia".

Andrade cita ainda a antecipação de parcelas do 13º salário, do abono salarial e o reforço no Bolsa Família – entre outras medidas para a população mais vulnerável. "Elas trazem alívio à situação da população mais carente, que é quem mais potencialmente deve sentir os efeitos de uma crise prolongada e que já vinha em situação desfavorável, por conta do alto desemprego."

A suspensão, por três meses, das parcelas da União no Simples Nacional também dão um suspiro para que as micro e pequenas empresas, que têm menos caixa, tenham mais condições de enfrentar o período difícil. "Manter as empresas ativas é de grande importância e é preciso haver linhas de crédito para capital de giro e financiamento de médio prazo (Proger/FAT e linha do BNDES). Também é positiva, por exemplo, a suspensão, por 60 dias, do pagamento de dívidas com a Caixa", diz o presidente da CNI.

Um dos grandes medos da população é o desabastecimento. "Temos acompanhado a situação de setores com atenção. Entendo que a saúde da população vem primeiro, mas é preciso que governantes de estados e prefeituras sigam as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), mas com atenção à continuidade de atividades produtivas. As cadeias hoje são complexas. Se uma para, há um efeito em cadeia que prejudica outras tantas empresas", afirma Andrade.

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