Mortes: Referência em justiça social, era um contador de histórias
O advogado Paulo Henrique da Matta Machado participou dos movimentos estudantis, da resistência ao golpe de 1964, e das lutas pela anistia e pelas Diretas Já
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No final da tarde do domingo de Ramos nos despedimos de Paulo Henrique da Matta Machado, um homem para quem a palavra desapego foi uma filosofia de vida. E que vida!
Para muitos, foi um respeitado advogado, o doutor Matta Machado. Na Constituinte de 1988, como assessor jurídico, foi um dos profissionais mais requisitados, deixando uma marca de democrata e defensor da justiça social.
Para seus dez netos era um avô especial, que gostava de contar e ouvir histórias. Para os cinco filhos, sempre foi uma referência, culto, amante da boa escrita, mais ligado às gentes do que às coisas. Dono de um sorriso sincero e gentil.
Participou dos movimentos estudantis, da resistência ao golpe de 1964 e das lutas pela anistia e pelas Diretas Já. Esteve ao lado de Leonel Brizola em 1961 e, anos depois, defendeu o histórico prédio da UNE na Justiça, ganhando três liminares que impediram sua demolição.
Filho de um juiz de direito, ficou órfão de pai aos seis anos e começou a ajudar a mãe vendendo pastéis. Mais tarde, já estudante em Belo Horizonte, aprendeu a gritar “bala, chocolate e drops” na porta do cinema, refrão que lhe garantiu sustento e que ele repetia, orgulhoso, até seus últimos dias.
Veio para o Rio atraído pelos ares da capital. Conseguiu ganhar a vida como sargento concursado da Aeronáutica, controlando voos no aeroporto Santos Dumont.
A sede de saber o levou primeiro às aulas de filosofia e depois à Faculdade de Direito na Universidade do Estado da Guanabara, hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi trilhando esse caminho que chegou à profissão que lhe permitiu servir à família e ao Brasil.
Simpatizante da esquerda, foi preso na ditadura. Mais tarde, já num terceiro matrimônio, mudou-se para Brasília onde se tornou assessor parlamentar concursado. Politicamente esteve ligado ao PDT, mas tornou-se amigo do jovem deputado Luiz Inácio Lula da Silva e participou da fundação do PT, em Cabo Frio (RJ) onde foi morar depois que se aposentou.
Lá cultivou os pequenos prazeres de um dia a dia despojado, “vida de pescador”, como dizia. Apaixonado pela leitura da Folha e leitor ávido. Um homem que tinha um jeito único de preparar café com leite, que amava sua mulher, Marta Mathias, que escolheu envelhecer numa fazenda, que adorava os passarinhos e as viagens para a Península de Maraú, na Bahia e Tocantins.
Matta Machado foi visionário e sonhador e gostava tanto de viver que costumava falar com sua graça peculiar: “Um dia eu posso até morrer, mas vou contrariado!” Morreu vítima de leucemia mieloide aguda, aos 84 anos. Ele deixa cinco filhos e dez netos.
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