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Descrição de chapéu Obituário Carlos Benedito 'Cacau' Arantes Franco (1953 - 2023)

Mortes: Viveu para o reggae e não tolerava o preconceito que afetou seus pais

Carlos Benedito 'Cacau' Arantes Franco foi emancipado aos 15 anos para seguir carreira musical

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Alceu Nader
São Paulo

Cacau, como era conhecido entre os músicos pioneiros do reggae nacional, ou apenas Carlinhos, para a família e os amigos de infância, enfrentou na pele o racismo.

Ele não tolerava preconceitos, e contava que estava sempre em estado de vigília porque seus pais haviam sido vítimas de racismo em um caso que comoveu a alta sociedade e o meio artístico de São Paulo nos anos 1940.

Carlos Benedito "Cacau" Arantes Franco era guitarrista, pianista, arranjador e produtor musical, e segundo filho de um casal que viveu uma história de amor inesperada nos anos 1940. Seu pai, Edgar Arantes Franco, branco, cantor barítono e professor de canto, desfez o casamento com uma integrante da influente família de alta sociedade para casar-se com Maria dos Anjos Vieira Castilho, negra, chapeleira e aderecista teatral.

Os dois se conheceram nos bastidores e se apaixonaram durante os ensaios de uma ópera que sua companhia de teatro estrearia no Theatro Municipal de São Paulo. Foram condenados por provocarem o fim de um casamento, mas principalmente porque se tratava de um branco que desfez sua união com uma mulher branca, rica, para casar-se com uma negra, pobre.

Carlos Benedito 'Cacau' Arantes Franco (1953 - 2023), à direita, com os amigos Da Ghama (à esq.) e Luiz Guitarreiro - Arquivo pessoal

A música, sempre presente em sua família, chegou cedo para Cacau. Ainda adolescente, com 15 anos, foi emancipado pelos pais para se apresentar na noite paulistana e viajar sozinho para o Rio de Janeiro, onde seu padrinho, Erlon Chaves, um dos primeiros maestros negros do Brasil, o ajudava a conseguir trabalhos. Em 1974, o padrinho morreu após um ataque cardíaco fulminante.

No começo dos anos 1980, Cacau criou seu próprio grupo musical, a Outra Banda, apresentando-se com frequência no "Matéria Prima", primeiro programa que o apresentador Serginho Groisman comandou na TV Cultura de São Paulo. Nesse período, sua banda ganhou o patrocínio de uma agência de publicidade que também atendia uma famosa marca de laticínios.

"Nessa época, nossa geladeira vivia cheia de queijo, iogurte e danoninho", lembra Sônia Franco, sua esposa, com quem Cacau foi casado durante 49 anos.

O sucesso engatinhava, demorando para chegar, enquanto as despesas vinham a galope. Cacau e Sônia tiveram três filhos entre os anos 1980 e 1990 e as despesas não paravam de subir. Embora ela ganhasse relativamente bem, o dinheiro não era suficiente.

Com a morte de sua mãe, em 1985, passou a administrar com o irmão mais velho, Edgar, a Flores Meire, criada por ela, ao lado do então recém-inaugurado Hospital São Luiz, no Itaim Bibi.

Nos últimos anos de atividade, antes de sofrer um AVC que comprometeu sua fala e todo seu lado direito, Cacau traçou planos de retomada com dois de seus melhores amigos —o guitarrista Luiz Wagner, o Luiz Guitarreiro, e Da Ghama, fundador do Cidade Negra—, mas não pôde levá-los adiante. Prejudicado na recuperação pela dependência do cigarro, interrompeu definitivamente o trabalho como produtor do cantor Hyldon, autor do clássico "Casinha de Sapé (Na Rua, na Chuva, na Fazenda)".

Cacau Franco morreu dia 10 de outubro, uma semana antes de completar 70 anos. Deixou a mulher, os filhos Gabriela, Marcos, Paulo e Gabriel e seis netos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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