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Estudo com 96 mil pessoas com Covid-19 aponta que cloroquina eleva risco de morte

Combinação de hidroxicloroquina com antibióticos é a mais perigosa, diz pesquisa na revista Lancet

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São Paulo

Um novo estudo feito com dados de 96 mil pessoas internadas com Covid-19 em 671 hospitais de seis continentes indica que quem tomou hidroxicloroquina e cloroquina tinha maior risco de arritmia e de morte do que os pacientes que não usaram esses medicamentos.

Este é o maior estudo até agora sobre o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19. Os resultados foram publicados na revista científica inglesa The Lancet, uma das mais prestigiosas do mundo. Segundo os autores, de universidades como Harvard (EUA) e da University Heart Center (Suíça), não foi possível comprovar qualquer benefício da administração da cloroquina ou da hidroxicloroquina logo após o diagnóstico de Covid-19.

Os achados são similares a outros estudos publicados nas revistas médicas BMJ, Jama e New England Journal of Medicine que também não apontaram benefício e viram possíveis danos dos medicamentos.

Os dados, porém, não são defitinivos, porque o estudo é observacional —ou seja, traz evidências da vida real em vez de dividir aleatoriamente os pacientes em grupos para receber tratamento ou placebo e comparar os resultados. Os estudos randomizados duplo-cegos são considerados o padrão ouro da medicina baseada em evidências.

Os autores dizem que os medicamentos só deveriam ser usados em estudos e que é urgente a necessidade de confirmação por meio de ensaios clínicos randomizados.

Foram analisados dados do período entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril de 2020. Todos os pacientes tiveram alta hospitalar ou morreram até o dia 21 de abril.

Dos 96.032 pacientes com Covid-19 hospitalizados durante o período do estudo, 14.888 estavam nos grupos que receberam tratamentos —1.868 usaram cloroquina, 3.783, cloroquina associada a antibióticos, 3.016, somente hidroxicloroquina e 6.221, hidroxicloroquina associada a antibióticos. Outros 81.144 estavam no grupo controle.

Cerca de 11% dos pacientes do estudo morreram. Os mais propensos a morrer eram os homens, os mais velhos, os obesos, os negros, os hispânicos e aqueles que tinham doenças associadas. Além disso, diferentemente do estudo fracês que indicava efeito protetor da nicotina, os mais propensos a morrer relataram ser fumantes.

O grupo de pacientes que recebeu o medicamento em alguma das quatro modalidades teve maior mortalidade do que o grupo controle. A maior mortalidade foi observada entre os que receberam hidroxicloroquina associdade com antibióticos (23,8%), seguida por cloroquina com antibiótico (22%), apenas hidroxicloroquina (18%) e apenas cloroquina (16,4%). A mortalidade do grupo controle foi de 9,3%.

Os grupos que usaram medicamentos também tiveram risco maior de desenvolver arritmia ventricular durante a internação.

A modalidade que mais apresentou maior risco de o paciente desenvolver arritmia cardiaca foi a administração de hidroxicloroquina com antibióticos (8,1%), que foi contraindicada pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês) dos EUA no fim de abril. Em seguida, aparecem cloroquina com antibiótico (6,5%), apenas hidroxicloroquina (6,1%) e apenas cloroquina (4,3%).

Segundo José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde (2007-2010, governo Lula), médico sanitarista, membro titular da Academia Nacional de Medicina e pesquisador da Fiocruz, os resultados condenam eticamente o uso da cloroquina para o tratamento da Covid.

"O problema é que ao menos até que sejam tornados publicos os resultados do DisCoVeRy, estudo que está sendo desenvolvido a nível global, nenhum estudo, conseguirá dirimir a contento essa discussão aqui no Brasil, porque na verdade não se trata de polêmica técnico-científica, mas política."

Tanto o presidente americano Donald Trump como o brasileiro Jair Bolsonaro são defensores dos medicamentos. O americano disse que começou a tomar o medicamento de forma preventiva apesar da falta de evidências que suportem a decisão, e o brasileiro forçou a saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde e a publicação de um novo protocolo que amplia o uso de cloroquina também para casos leves de Covid-19.

Os estudos sobre uso da cloroquina contra o coronavírus

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