Siga a folha

Coronavírus invade células do pênis e testículos de macacos, descobrem pesquisadores

Pesquisa indica que disfunção erétil relatada por alguns pacientes com Covid pode ser causada diretamente pelo vírus

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Roni Caryn Rabin
The New York Times

O coronavírus pode infectar o tecido do trato genital masculino, segundo mostrou uma nova pesquisa sobre macacos rhesus. A descoberta sugere que sintomas como disfunção erétil relatados por alguns pacientes com Covid-19 podem ser causados diretamente pelo vírus, não pela inflamação ou a febre que geralmente acompanham a doença.

A pesquisa demonstrou que o coronavírus infectou a próstata, o pênis, os testículos e os vasos sanguíneos circundantes em três macacos rhesus. Eles foram examinados com varreduras de corpo inteiro especialmente projetadas para detectar locais de infecção.

Os cientistas —que esperavam encontrar o coronavírus em pontos como os pulmões, mas não sabiam onde mais o encontrariam— ficaram um tanto surpresos com a descoberta.

Macaco rhesus da espécie mulatta na colônia do Instituto Butantã, em São Paulo - Raquel Cunha - 5.nov.2013/Folhapress

"O sinal que se destacou para nós foi a disseminação completa pelo trato genital masculino", disse Thomas Hope, principal autor do artigo e professor de biologia celular e do desenvolvimento na Escola de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, em Chicago. "Não tínhamos ideia de que o encontraríamos lá."

Quando sua equipe analisou inicialmente uma imagem digitalizada do primeiro animal, uma das cientistas perguntou: "De que sexo era o animal mesmo?", disse Hope.

"Eu disse: 'Acho que é fêmea'. E ela disse: 'Acho que não é fêmea'. Desci até a parte inferior da imagem, que estava quase cortada, e os testículos estavam bem iluminados. O sinal no pênis estava fora do radar", disse Hope.

O artigo se baseou em descobertas em apenas três macacos, mas as conclusões foram consistentes, disse Hope. O estudo ainda não foi revisado por pares para publicação em uma revista e foi publicado na segunda-feira (28) no site bioRxiv.

O trabalho foi realizado no Centro Nacional de Pesquisa de Primatas Tulane, na Louisiana. Os pesquisadores não sabem se os macacos apresentavam sintomas correspondentes à infecção viral do trato genital masculino, como baixos níveis de testosterona, baixa contagem de espermatozoides, dor ou disfunção sexual, disse Hope.

Cerca de 10% a 20% dos homens infectados com o coronavírus apresentam sintomas ligados à disfunção do trato genital, relataram estudos.

Homens infectados com o vírus são três a seis vezes mais propensos do que outros a desenvolver disfunção erétil, que se acredita ser um indicador de longa duração da Covid-19.

Os pacientes também relataram sintomas como dor testicular, contagem reduzida de esperma e redução da qualidade do esperma, diminuição da fertilidade e hipogonadismo, uma condição na qual os testículos produzem quantidades insuficientes de testosterona, levando a baixo desejo sexual, disfunção sexual e redução da fertilidade.

Outros vírus são conhecidos por afetar a fertilidade, observou Hope. "A caxumba é mais famosa historicamente, por causar esterilidade", disse. "O vírus Zika vai para os testículos e os infecta, e o Ebola também pode fazer isso."

Embora uma pequena fração dos homens sofra tais complicações após a infecção por coronavírus, milhões podem sofrer problemas de saúde sexual e reprodutiva após a pandemia, simplesmente porque o vírus infectou tantas pessoas em todo o mundo, alertou Hope.

Ele pediu aos homens que se vacinem e procurem uma avaliação médica se estiverem preocupados com sua saúde sexual ou reprodutiva.

A tomografia por emissão de pósitrons usada no novo estudo foi projetada para identificar os locais de infecção por coronavírus em animais vivos. A tecnologia possibilita fazer varreduras repetidas e sequenciais de um animal, rastreando como o vírus percorre o corpo e como é eliminado.

Agora Hope pretende determinar se os testículos são um reservatório para o coronavírus, hipótese levantada por alguns cientistas. Ele também analisará se o vírus infecta tecidos no sistema reprodutivo feminino.

A esperança é usar as informações para desenvolver tratamentos que mitiguem o efeito da pandemia na fertilidade. As varreduras também podem detectar a localização do vírus nos pacientes e adaptar os tratamentos adequadamente.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas