Descrição de chapéu câncer

Cuidados com câncer de próstata diminuem na pandemia, mostra levantamento

Tratamento e prevenção da doença caíram desde 2020; estima-se que 4.560 casos deixaram de ser diagnosticados em SP

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São Paulo

Diagnósticos, internações e cirurgias de câncer de próstata diminuíram desde 2020, aponta pesquisa. Consultas ao urologista também registraram uma taxa menor que o esperado —até julho deste ano, foram realizadas 1.812.982, enquanto em 2019 esse número ultrapassou 4 milhões.

Os dados são do Ministério da Saúde e obtidos pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia).

Outras pesquisas já indicavam que a atenção com o câncer de próstata vinha diminuindo. Um levantamento de janeiro da SBU de São Paulo estimou que aproximadamente 4.560 doentes deixaram de ser diagnosticados no estado em 2020.

Prédio da Câmara dos Deputados, em Brasília, iluminada de azul em ocasião da Novembro Azul.
A Câmara dos Deputados, em 2014, utilizou iluminação proposta pela campanha Novembro Azul contra o câncer de próstata. - MDB/Flickr

Especialistas citam a pandemia como uma explicação para esse cenário. "A Covid-19 impactou muito a procura dos pacientes a serviços de saúde, resultando numa diminuição de casos diagnosticados", diz Geraldo Faria, presidente da SBU de São Paulo.

O urologista afirma que houve receio de ir a instituições de saúde por causa dos riscos de infecção, mas também foi necessário reorganizar as equipes médicas para atender a alta demanda na pandemia, diminuindo a atenção a outras doenças.

Segundo ele, normalmente já há subnotificação dos casos de câncer de próstata no Brasil, resultando em uma situação "de muita gente com a doença, mas sem diagnóstico". A pandemia, no entanto, piorou ainda mais a situação.

Para Franz Campos, coordenador do Centro de Diagnóstico de Câncer de Próstata do Inca (Instituto Nacional do Câncer), o avanço da vacinação e o controle do Sars-CoV-2 já mostram resultados na retomada aos diagnósticos.

Segundo ele, dados do Inca mostraram que exames de biópsia da próstata, essencial no diagnóstico da doença, diminuíram durante o primeiro ano da pandemia, mas quando se compara 2021 com o ano passado, a procura pelo exame subiu aproximadamente 27%.

Mesmo assim, Faria acredita que é necessário tomar outras medidas para conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce. Para o médico, o fato de as consultas com urologistas ainda estarem em baixa mostra que as pessoas não voltaram a se preocupar completamente com a doença.

Ele menciona a necessidade de associações de saúde, como a própria SBU, realizarem campanhas que conscientizem as pessoas das avaliações médicas. Além disso, o poder público precisa tomar atitudes para informar a população sobre a importância de ir ao médico, afirma.

Um diagnóstico precoce do câncer de próstata resulta em 90% de chances de cura. Ele também é importante porque a doença não apresenta sintomas nas fases iniciais. Quando o paciente percebe a presença de indícios, como sangramento na urina, já é um indicativo de um estágio avançado.

"O exame anual investiga a possibilidade de haver um câncer que está ali silencioso, então não se deve esperar sintomas para saber se tem ou não a doença", afirma.

A importância da identificação da doença no início também é destacada por Campos, principalmente porque, em média, metade dos pacientes diagnosticados em centros do Inca são de alto risco, afirma o médico.

O tratamento contra a doença evoluiu nos últimos anos e depende do estágio em que se encontra. Os principais métodos são a cirurgia da glândula prostática para retirar o tumor ou a radioterapia.

"Essa cirurgia ganhou um avanço muito grande com a incorporação de técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia robótica, que tem um grau de agressividade pequeno", explica Faria. Na radioterapia, já é possível aplicar a radiação somente na região do câncer, sem atingir tecidos e órgãos próximos.

Para casos mais graves, existe a indicação de incorporar "novas drogas orais, [como a abiraterona e a enzalutamida], que facilitam muito o tratamento em pacientes que têm a doença avançada", diz Faria.

Mesmo com os avanços da medicina, o urologista ainda ressalta que "a cura do paciente vai ser feita com o diagnóstico precoce".

"Quando o câncer extrapola [a próstata], sai dali, ganha a corrente sanguínea e vai se localizar em outros órgãos, provavelmente esse paciente vai morrer", afirma.

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