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'Pensei que futebol era ambiente civilizado', diz mãe gremista agredida

Taís Dias afirma que ofensas a ela no Beira-Rio continuaram no trajeto entre portões

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Porto Alegre

A vendedora Taís Dias, 38, ofendida por torcedores do Internacional após o Grenal do último domingo (20), diz não pretender levar tão cedo os três filhos ao estádio. 

O clássico no Beira-Rio era a primeira vez que ela, o marido e os garotos iam juntos ver futebol. Ela lembra para a Folha os xingamentos que recebeu e o medo que passou por ela e seu filho mais novo exibirem a camisa do time do coração na arquibancada da arena.

Sou casada e mãe de três filhos: Igor, 11, Gabriel, 9, e Bernardo, 6. Desde que eu e meu marido nos casamos, nunca mais fomos ao estádio. Todos gostam de futebol, mas normalmente acompanhamos pela televisão. 

Como as crianças nunca tinham assistido a uma partida no estádio, o último Grenal, no sábado (20), parecia a oportunidade ideal para todos. Era a primeira atividade das férias escolares de inverno planejada para ele. Os outros passeios cancelamos por causa do que aconteceu. Sou vendedora e queria aproveitar que consegui uns dias de férias no mesmo período que eles.

Taís Dias e o filho Bernardo beijam o escudo do Grêmio antes de jogo contra o Libertad (PAR), pela Libertadores - Marcelo Oliveira-25.jul.19/AM Press & Images/Folhapress

O Grenal era a chance para nossa família assistir a um jogo com os times de todos em campo, especialmente para os meninos. O Lucas, meu marido, é colorado, assim como o Igor e o Gabriel. Eu sou gremista e o Bernardo também. 

Em casa, a gente até torce para o time do outro para dar força. Quando é o Inter na TV, torcemos para o Inter, e vice-versa. Quando um perde, tem chacota, fazem brincadeiras de irmãos. É tudo saudável.

Por isso, tentamos 5 ingressos para a torcida mista. Mas descobrimos que só os sócios podiam adquirir. Então fomos ao portão 6 e ficamos todos em uma arquibancada só. 

Estava tudo bem, mas entraram os jogadores do Grêmio para o aquecimento, e a torcida colorada começou a vaiá-los. O Bernardo ficou sentido e chorou, não entendeu. Foi aí que nos separamos. Troquei de lugar com ele para uma arquibancada embaixo da torcida do Grêmio, mais vazia. 

Durante o jogo, nos sentimos bem à vontade. Um ambiente bem familiar. Quando teve o gol do Grêmio, a gente não comemorou para não ter nenhum tipo de atrito, para não soar como provocação.  

O problema foi quando acabou. A torcida é a última a sair. Ficamos esperando uns 15 minutos. O Bernardo me pediu para pegar as camisetas para comemorar. Estávamos voltados para a torcida do Grêmio, acima da gente. Saindo dali, encontraríamos os irmãos e o pai para voltar para casa.

Daí apareceram três pessoas, uma mulher e dois homens. Tomei até um susto, porque estávamos praticamente sozinhos naquela arquibancada. Foi juntando um pessoal. Ela me abordou em um momento de fúria, queria arrancar as camisas da gente. 

Me agrediu. Ela dizia: “Vou queimar essas camisetas”. Dizia que eu não ia ficar com as camisas, que ia queimar. Me ofendeu de vagabunda, maluca, sem vergonha, cara de pau, começou a me empurrar. 

O Bernardo chorou porque ela disse que ia queimar as camisetas. Ganhamos de presente para torcermos na final da Libertadores de 2017, quando o Grêmio venceu . Ele dizia: “Solta a camisa da minha mãe, devolve nossas camisas”. Ele começou a se desesperar. 

O funcionário fez um acordo comigo, disse que levaria nossas camisas e depois me devolveria. Ele desceu as escadarias e depois ficamos sós. 

Fiz o trajeto sozinha com meu filho e ela estava no corredor, começou a gritar que eu era gremista. Não tem filmagem disso de celular, só se tiver nas câmeras internas.

Chegamos até meu marido. Ele só soube da agressão na hora que consegui encontrá-lo. Ele buscou as camisas com a segurança. A partir dali fomos embora sozinhos, ninguém nos conduziu com segurança em lugar nenhum.

Quem agride perde a razão. Nunca imaginei que isso poderia acontecer. Nunca coloquei em risco nenhum filho. Pensei que era um ambiente civilizado. Não vamos mais ao estádio, exceto no próximo que ganhamos convite do clube [Grêmio e Libertad-PAR]. A gente não vai ter interesse em ir por um bom tempo. 

Estamos tentando preservar o Bernardo e deixar ele curtir as coisas boas, as homenagens dos jogadores do Grêmio, a recepção na Arena. 

Independentemente de que clube torce, aquilo ali não é normal de acontecer, especialmente entre mulheres.

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