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Informal, Caldeira foi sócio de Frias na transformação da Folha

Empresário de estilo despojado teve vários empreendimentos e foi prefeito de Santos

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São Paulo

Durante três décadas, o empresário Carlos Caldeira Filho foi uma presença difícil de ignorar na sede da Folha, no centro de São Paulo, e não apenas porque era um dos donos da empresa.

Chegava em um dos carrões americanos que importava, geralmente de terno de linho branco e sandálias, cumprimentando a todos expansivamente e sem formalismos, antes de subir para sua sala, no oitavo andar do prédio.

Em foto de 1965, Carlos Caldeira Filho (esq.) e Octavio Frias de Oliveira, acompanhado dos filhos Luiz (o menor) e Otavio - Arquivo Pessoal

Lá, era o despojamento em pessoa, recebendo visitas e falando ao telefone em voz alta, enquanto um pequeno aviário garantia a trilha sonora do lugar. Alguns pássaros ganhavam momentos de liberdade e pousavam em sofás, poltronas ou na mesa de bilhar que ele mantinha no local.

Caldeira, morto em 1993 aos 79 anos, foi sócio de Octavio Frias de Oliveira (1912-2007) em diversos empreendimentos ao longo de quase meio século, entre eles a Folha, que adquiriram juntos em 1962. Antes, haviam sido responsáveis pela antiga rodoviária de São Paulo, também no centro, entre outros negócios.

Segundo quem conviveu com a dupla, tinham perfis complementares. Frias era metódico e mais atento à parte editorial do jornal; Caldeira, um empresário informal e com tino político, inclusive na acepção literal do termo: por oito meses em 1979 e 1980, foi prefeito nomeado de Santos (SP), sua cidade natal.

“O ‘seu’ Frias dizia que o sócio tinha grande intuição empresarial, e que conseguia fazer conta até de ponta cabeça. Caldeira era voltado aos negócios, uma pessoa muito prática", diz Antonio Manuel Teixeira Mendes, superintendente da Folha, que entrou no jornal em 1985.

Uma das medidas que Caldeira tomou foi revestir as paredes da Folha de pastilhas, que durante muito tempo foram uma marca do prédio. As pecinhas foram obtidas em permuta com uma fábrica, e a sobra ainda foi usada em sua casa na capital paulista.

Enquanto Caldeira e Frias foram sócios, a Folha passou de um jornal de médio porte, endividado e sem prestígio, para o maior e mais influente diário do país.

“Parecia o Bem Amado [personagem de telenovela], com aquele paletó branco. A diferença é que era uma figura muito generosa. Se soubesse de alguém que tinha um problema financeiro, ajudava, especialmente se fosse uma questão de saúde”, diz o fotógrafo Luiz Carlos Murauskas, que trabalhou na Folha durante 51 anos e era constantemente chamado a fazer registros de reuniões e eventos do patrão.

No breve período como prefeito de Santos, seguiu ligado à Folha, algo que hoje seria inconcebível. Quem o nomeou, de acordo com a legislação da época, foi o então governador de São Paulo, Paulo Maluf, que era amigo de Caldeira e de Frias.

“Maluf tinha uma grande admiração pelo que o Caldeira havia construído como empresário e o considerava um ótimo gestor”, diz Adilson Laranjeira, assessor de imprensa de Maluf, e que conviveu diretamente com Caldeira quando foi diretor da extinta Folha da Tarde, entre 1984 e 1991.

Na prefeitura, anos antes de políticos se promoverem como caçadores de mordomias, Caldeira determinou a venda de todos os carros oficiais à disposição do primeiro escalão. O gesto tornou-se a principal marca de sua administração.

Ele ocasionalmente dava incertas na Redação para se informar sobre algum acontecimento que lhe interessasse diretamente. Numa delas, em 1978, apareceu por volta de 23h, perguntando como estava a disputa pela indicação para ser governador biônico de São Paulo, em que Maluf concorria pela Arena, o partido de sustentação da ditadura.

“A gente informou que a contagem dos votos dos delegados seguia indefinida, ao que ele disse: ‘o Paulo [Maluf] que se vire, mas está todo mundo com fome’. E pediu sanduíche de mortadela com refrigerante para dezenas de pessoas”, lembra Laranjeira.

Outro tema do coração era o Santos Futebol Clube, do qual foi vice-presidente e que chegou a ajudar financeiramente com recursos do próprio bolso, nos anos 1960.

Uma das raras interferências editoriais era convocar em sua sala o diretor de Redação, Claudio Abramo, cujo interesse futebolístico era próximo de zero. Pedia que o jornal desse mais destaque ao esporte em geral e ao alvinegro do litoral em particular, mas nem sempre era atendido.

Na virada das décadas de 1980 e 1990, Caldeira, já septuagenário, começou a se desfazer de seus negócios, num processo de separação amigável.

De comum acordo repassou a Frias sua parcela na Folha, mas teve pouco tempo de vida apartado do prédio do jornal, que tratava como se fosse sua casa. Morreu um ano e meio depois, em razão de um aneurisma da aorta.

Raio-x

Carlos Caldeira Filho (1913-1993)

  • Nascimento: Santos (SP)
  • Cargos: sócio-proprietário da Folha, do Terminal Rodoviário de São Paulo e de diversos outros empreendimentos; foi prefeito de Santos (1979-80), vice-presidente do Santos Futebol Clube (1957) e presidente da Fundação Cásper Líbero (1976-79)

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