Descrição de chapéu Eleições 2024

'Isso não é democracia, é baderna', diz Datena após confusão com ala pró-Nunes do PSDB

Apresentador fez fortes críticas ao prefeito e ao grupo de tucanos opositores ao chegar à convenção que referendou sua candidatura

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"Isso não é democracia, é baderna", disse o apresentador José Luiz Datena ao chegar à convenção municipal da federação PSDB-Cidadania que confirmou seu nome na disputa pela Prefeitura de São Paulo, na manhã deste sábado (27).

Datena se referia a confusão e protestos da ala de tucanos contrários a sua candidatura. O grupo, liderado pelo ex-presidente municipal do PSDB Fernando Alfredo, defende que o partido apoie a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB). O apresentador fez críticas a Nunes e exaltou o PSDB.

Durante a convenção neste sábado, Datena anunciou o ex-senador e presidente municipal do PSDB, José Aníbal, como vice na sua chapa.

Datena chega a convenção municipal do PSDB para oficializar sua candidatura à Prefeitura de São Paulo - Felipe Iruatã/Folhapress

Antes de a convenção começar, houve confusão após tucanos contrários a Datena terem a entrada barrada na Assembleia Legislativa. Parte do grupo invadiu o prédio, mas foi feita uma nova barreira na parte interna. A Polícia Militar foi chamada para reforçar o bloqueio.

Os partidários de Fernando Alfredo foram ao evento uniformizados, com blusas pretas que diziam "respeitem a nossa história" e "militância tucana".

Houve bate-boca e empurra-empurra entre seguranças contratados pelo PSDB municipal e os militantes tucanos. Parte do grupo conseguiu furar também o bloqueio interno e chegou à porta do auditório da convenção. Do lado de dentro, houve tensão com o medo da invasão, que acabou contida pelos agentes e pela PM.

Datena chegou ao auditório ovacionado, após a segurança nas portas ter sido reforçada. Ele entrou acompanhado de Aníbal e do presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo.

Após discursar na convenção, Datena disse que iria sair pela porta da frente. O apresentador foi, então, ao portão da Alesp onde bateu boca com os manifestantes da ala pró-Nunes que estavam barrados do lado de fora. Datena levou água na cara e foi chamado de "arregão" e "golpista". Depois disso, entrou em seu carro e partiu escoltado pelos policiais.

"Parece que eu nasci para este dia. Parece que meus 67 anos de vida me prepararam para este dia", disse Datena em seu discurso, afirmando que o PSDB não está "fragmentado e acabado".

Datena acusou grupo contrário a ele de querer manter o crime organizado no poder e insinuou, ressaltando que ainda cabe investigação, haver ligação entre os tucanos opositores e Nunes e também ao crime organizado.

"Isso aqui não é democracia, isso é um bando de vendidos a este prefeito de São Paulo que está borrando as calças", disse. "É gente vendida por 15, por 30 moedas de prata a este prefeito. Nós não temos medo de combater esta gente", declarou.

"Nós queremos o povo no poder e não bandidos no poder. Quem financiou essa gente toda que está aí fora?", questionou. Segundo ele, as pessoas foram financiadas "por canalhas que são contra a democracia".

Datena voltou a atacar a polarização, fazendo críticas aos adversários e seus padrinhos, Nunes-Jair Bolsonaro (PL) e Boulos-Lula (PT). E exaltou os líderes do PSDB.

"Eu não chego aos pés, eu não sirvo pra engraxar o sapato do Mario [Covas, do Bruno [Covas], do Fernando Henrique, mas a minha intenção é honrar os nomes deles", disse.

Após a convenção, Datena bate boca com militantes do PSDB barrados do lado de fora - Felipe Iruatã/Folhapress

Questionado pela Folha sobre as falas de Datena que relacionavam o grupo tucano rival ao prefeito e ao crime organizado, Nunes afirmou que o adversário "é um bom apresentador, mas a disputa eleitoral não é um programa de televisão".

"Com todo o respeito e carinho, ele está no caminho errado de querer entrar só fazendo críticas infundadas às pessoas e achando que está no programa de televisão", completou.

A assessoria da pré-campanha do MDB afirmou que as declarações de Datena "serão avaliadas pelos advogados […] para a tomada de possíveis medidas jurídicas".

Já Fernando Alfredo, a respeito da associação que Datena fez entre o grupo, o prefeito e o crime organizado, afirmou que "isso só mostra o caráter desse cara" e que trata-se de uma falácia.

"Ele quer falar que eu sou do PCC, olha a minha história. A minha vida não é diferente desses militantes que estão aqui querendo manifestar sua vontade de ter um candidato próprio, mas que legitimamente represente esse legado tucano de José Serra, de Bruno Covas, de João Doria e de todos esses que representaram o PSDB na cidade de São Paulo e que eles hoje tentaram destruir", completou.

Durante a convenção confinada no auditório, o grupo de Fernando Alfredo fazia barulho do lado de fora com apitos, gritos e um pequeno carro de som.

"Fui agredido aqui, olha a minha mão, tomei porrada, tomei soco, saindo daqui vou fazer um boletim de ocorrência, porque nunca aconteceu isso em convenção do PSDB", disse Fernando Alfredo após a saída de Datena. Ele reclamou ainda que a militância não é ouvida e considerada pela cúpula do partido, a quem acusa de dar um golpe em São Paulo. Fernando Alfredo declarou ainda que vai acionar a Justiça para anular a convenção deste sábado.

Perillo chamou os tucanos pró-Nunes de "desesperados pagos com o erário" e disse que, após a homologação nacional, acabaram as dúvidas sobre Datena ser ou não ser candidato.

"Não tem mais esse discurso ‘Datena vai ou não vai’. Datena é o candidato oficial do PSDB. […] Tenho convicção de que Datena vai dar sequência a esses legados todos, do Fernando Henrique Cardoso, do José Serra, […] do Mario Covas, do Franco Montoro", disse Perillo.

"Datena, esse não é um partido qualquer, você sabe disso. É uma grife, é o partido que mais entregou no Brasil", acrescentou o presidente do PSDB dirigindo-se ao apresentador.

Em seu discurso, Aníbal afirmou que a confusão era "página virada" e que medidas legais seriam tomadas.

"Isso não é um ato político, é delinquência", afirmou o ex-senador, mencionando que as camisas pretas dos militantes tucanos lembravam os camisas negras do fascismo italiano.

"Comecem a campanha, mas comecem a campanha junto com Datena", pediu Aníbal aos pré-candidatos a vereador.

Em seu discurso, o ex-vereador Mario Covas Neto, o Zuzinha, afirmou que o PSDB não acabou. "Como que um partido que acabou gera essa disputa?", questionou.

Em seus flertes anteriores com a política, Datena não chegou a interagir com eleitores na rua como fez neste mês. É a primeira vez que sua pré-candidatura chega à etapa da convenção. Até agora, seu contrato e remuneração na Band pesaram contra a migração para as urnas.

Nas últimas semanas, Datena declarou em entrevistas, inclusive à Folha, que poderia desistir da política pela quinta vez se houvesse, em suas palavras, "sacanagem" e "tiros nas costas" vindos do PSDB. Apesar da mobilização tucana contra ele, o apresentador decidiu ir à convenção e afirma que vai manter sua candidatura.

Em reação à oposição interna e ao vaivém de Datena quanto a abandonar a candidatura, a cúpula nacional do PSDB decidiu, na sexta-feira (26), homologar o apresentador de antemão. A medida foi amparada na decisão de que, em cidades com mais de 200 mil eleitores, cabe à executiva nacional deliberar sobre a posição da federação na eleição.

Nesta semana, Fernando Alfredo apresentou sua própria pré-candidatura ao partido, com o objetivo de realizar prévias contra Datena, o que foi rejeitado pela sigla.

Ele chegou a acionar a Justiça Eleitoral pedindo a suspensão da convenção, mas o juiz Antonio Zorz, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, negou o pedido, na noite de sexta, e manteve o evento.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.