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Papel de empresas no combate à pobreza é tema de evento em SP

Setor privado está preso à ideia de investir pouco em projetos estritamente ligados a suas áreas de atuação, avaliam participantes do 'Utopia Pragmática'

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São Paulo

"A armadilha da pobreza é o maior problema da sociedade. Não é uma questão de dinheiro, mas de mentalidade, e afeta ricos e pobres. Tem solução. Só depende de nós. É urgente, mas não podemos ter pressa. Transformação social só ocorre quando a comunidade se torna protagonista da mudança."

É assim que o The Human Project (THP) se apresentou no evento "Utopia Pragmática", na última terça-feira (20), no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo.

A proposta era discutir o fim da pobreza como uma realidade possível, elencando maneiras pelas quais empresas devem inovar no investimento social e contribuir em processos de promoção de prosperidade social e econômica capazes de mudar o mundo.

Entre os convidados e participantes, membros de organizações do terceiro setor e divisões de ESG de empresas como Bayer, Scania, Lorinvest, EssilorLuxottica e Caixa Econômica Federal.

Marco Antônio Vieira Souto, Denise Hills, Edson Matsubayashi e Daniel Santos no evento Utopia Pragmática, em SP - Lucas Miyake

O THP desenvolve modelos de promoção de prosperidade econômica e social em cidades subestimadas, como na cidade de Santa Luzia do Itahny, em Sergipe, onde o IDH e o PIB per capita são abaixo da média nacional.

Para isso, desenvolve tecnologias sociais, em projetos coordenados por comunidades, com formação de capital humano, numa perspectiva de longo prazo.

"Se você olhar bem, quem tem, de fato, o mandato e a capacidade de gerar inovação é o setor privado", diz Saulo Barreto, fundador do The Human Project, que conta com cerca de 80% de seus recursos advindos de empresas.

Mas, apesar de todo o potencial, Barreto avalia que empresas ainda estão presas à ideia de investir pouco recurso em projetos limitados e estritamente ligados a suas áreas de atuação. "A pobreza não tem endereço", diz.

Mulheres do projeto Synapse do THP - Divulgação

Valéria Militeli, executiva nos setores de saúde, alimentos, óleo e gás, diz que as corporações não alocam seus melhores talentos para a área social, priorizando vendas ou transações e não considerando que deve ser parte dos negócios.

Diana Paes, responsável pela articulação de parceiros de negócios inovadores na EssilorLuxottica, compartilhou sua experiência com a dificuldade em apresentar projetos para lideranças que não trabalham com ESG.

"É uma falta de letramento e de compreensão do que isso significa. Elas têm dificuldade em ver o ‘bom’, o ‘interesse’ e o ‘dinheiro’ em uma frase só".

Comunidades protagonistas

Ao contrário destas limitações, Barreto explica que as tecnologias sociais estão baseadas em pequenas ações, que levam anos para serem desenvolvidas, a partir dos próprios membros da comunidade.

Exemplo é a Synapse, metodologia desenvolvida com quatro professoras do ensino público de Santa Luzia do Itanhy, voltada a melhorar a qualidade da educação infantil.

"Começamos o projeto com só quatro professoras. Ele levou seis anos para ficar pronto. Hoje, elas estão vindo para São Paulo apresentar a Rede Synapse, que elas mesmas fundaram. É uma ONG autônoma, que já conta com 2.000 colaboradoras", contou.

Professor do Insead (Instituto Europeu de Administração de Empresas) na França, Subramanian Rangan, que foca seu curso no progresso social, defendeu no evento que, entre governo, empresas, famílias e comunidades, os dois últimos devem ser protagonistas da transformação social.

"Empresas precisam cumprir seu papel sendo catalisadoras de soluções para o ecossistema, pensadas pelas próprias comunidades", diz.

Jovens do projeto CLOC, do THP, que estudam técnicas de programação - Divulgação

Nesse sentido, o evento trouxe, em uma segunda etapa, profissionais que discutiram estratégias de proposição e comunicação interna.

"Talvez, se a comunidade falar por si, a gente vai ter histórias que emocionam e que cumprem o primeiro papel de fazer uma conexão inicial", disse Marco Antônio Vieira Souto, chefe de estratégia do grupo Dreamers de comunicação.

Depois de já feita a conexão, é importante comunicar mais uma vez o impacto, ainda por meio das pessoas: "Ouvir um pouco mais, captar um pouco mais as histórias locais e sentir a força disso, deixando claro porque esta história está acontecendo e o que isto está provocando, em termos numéricos, em termos quantitativos, com uma pesquisa bem estruturada", completou.

Medir o impacto na ponta

Em uma conversa sobre avaliação de impacto, os palestrantes deixaram claro que não há como medir riscos ou esperar resultados —materiais ou imateriais— imediatos dos projetos.

"Projetos sociais podem ser pontuais. Mas a maioria, principalmente os mais transformadores, levam anos para mostrar resultado. O quanto posso desafiar minha liderança para distribuir essa verba em tempos diferentes?", provocou Valéria Militeli.

Denise Hills, ex-diretora global de sustentabilidade da Natura, também falou sobre como atender às avaliações de impacto. Ela concorda que os resultados sejam, na maior parte das vezes, subestimadas.

"A tecnologia social pode ajudar a medir a potência tanto dos negócios de impacto quanto dos negócios tradicionais."

Seria preciso, segundo ela, insistir nas avaliações, até que o apoio social vire obrigatório dentro da empresa: "A beleza de medir o impacto é que traz reflexões concretas e bases reais. O segundo ponto é que a medição te faz refletir sobre as correlações entre as decisões que eu tomo aqui e o que elas geram de economia lá [nas comunidades]".

A proposta do The Human Project é continuar o projeto da Utopia Pragmática com um encontro por ano, intercalado com seminários trimestrais para discussão dos avanços desenvolvidos durante o período.

O evento aconteceu em parceria com a Fundação Dom Cabral, através da iniciativa Imagine Brasil, que busca inspirar e mobilizar lideranças inclusivas e sustentáveis.

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