Misterioso, 'Torre. Um Dia Brilhante' ecoa história assombrosa da Polônia
Primeiro longa de ficção da polonesa Jagoda Szelc tem traços de alegoria política e de traumas históricos
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Dois tipos de mistério convivem em “Torre. Um Dia Brilhante”, primeiro longa de ficção da polonesa Jagoda Szelc. As imagens aéreas combinadas com a trilha inquietante que abrem o filme sugerem um horror metafísico, em que o medo é difuso, quase abstrato. Já a reunião de família posta no centro da trama é pontuada por situações que nunca são esclarecidas.
A indeterminação do sentido de algumas cenas, se concretas ou sonhadas, associada à frase “baseado em fatos futuros”, posta nos créditos, reforça a proposta de ficção enigmática. A ambientação em um espaço natural filmado de modo a intensificar o estranhamento ajuda na criação de uma angústia que paira sobre todo o filme.
O reencontro de Kaja com o restante da família move a trama, que tem traços de alegoria política e de traumas históricos da Polônia. O retorno de algo recalcado, a súbita recuperação da memória da mãe doente, o cão que tenta desenterrar algo no mato ou o vislumbre de um refugiado árabe escondido na floresta formam uma série de sinais que o filme superpõe.
Dentro da casa, os gestos banais de uma reunião de família se misturam a reações abruptas e à necessidade de manter Nina apartada de Kaja, sua mãe biológica.
A opção de filmar o ambiente doméstico com uma câmera colada aos personagens vincula-se à estética mais realista do cinema contemporâneo, enquanto a narrativa marcada por saltos no fantástico aproxima o longa da vertente surrealista do cinema polonês.
Esse modo feito de contrastes e dissonâncias permite à diretora forjar uma assinatura e encontrar um lugar privilegiado no circuito de festivais. Por outro lado, a escolha tende a tornar o filme mais em uma sucessão de efeitos climáticos que em um conceito convincente.
Se o peso da história e da religiosidade católica continua a assombrar os jovens realizadores poloneses, chama a atenção a distância que eles tomam do cinema feito pelos maiores nomes das gerações anteriores, que forjaram linguagens em desafio ao totalitarismo.
Sob a forma de realidade ou de fantasma, é a história do país que não cessa de assombrar.
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