'A Vida de Diane' revela face pouco conhecida do cinema americano
Longe de holofotes e glamour, filme retrata cotidiano de mulher que se lembra de todos, mas se esquece de si mesma
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É natural associar o cinema norte-americano ao universo de celebridades, blockbusters e grandes orçamentos. Afinal, à exceção de mostras esporádicas, são estes os filmes que normalmente chegam às salas brasileiras, propagandeados como eventos imperdíveis. Não à toa, dos 15 longas mais vistos no Brasil em 2018, 14 vêm dos EUA.
Existe, no entanto, um lado pouco conhecido da produção estadunidense. Aquele que, à margem dos grandes estúdios e das demandas de exportação, é vitrine de certa independência artística e comercial.
Agora em cartaz nos cinemas brasileiros, “A Vida de Diane”, de Kent Jones, se coloca como um desses frutos do cenário alternativo.
A afirmação é ambivalente, claro: por mais evidente que seja a distância dos padrões exorbitantes americanos, há de se relativizar o caráter independente de um filme cuja produção é assinada por Martin Scorsese e que tem David Fincher (“O Curioso Caso de Benjamin Button”) e Richard Linklater (“Boyhood”) na lista de agradecimentos.
Embora as cifras não tenham sido divulgadas, também não é descabido supor que seu orçamento supere as mais caras produções brasileiras.
Feita a ressalva, é inegável que “A Vida de Diane” segue vias alternativas.
Premiado no último Festival de Locarno —um dos mais celebrados eventos do que se chama cinema de arte—, o filme retrata o cotidiano estafante de Diane (Mary Kay Place). Nos cuidados com o filho viciado em drogas e na devoção a uma prima com câncer terminal, a protagonista é do tipo que se lembra de todos, mas esquece de si mesma.
Como de praxe nas obras que levam o nome de seus personagens, “A Vida de Diane” se sustenta no talento de sua atriz: Mary Kay Place, 71, nome de certa repercussão na TV norte-americana —e costumeira coadjuvante nas participações cinematográficas, como em “Quero Ser John Malkovich” (1999)—, ganha aqui o primeiro protagonismo.
Experiente, ainda que pouco conhecida no rol de estrelas, é ela quem concentra os maiores méritos do filme: destoante da cartilha dramática das emoções exageradas, sua atuação segura e sóbria sustenta a atmosfera introspectiva da narrativa. Cirúrgica nos gestos, a atriz destaca-se em um elenco de rostos desconhecidos, cujo anonimato conferem à obra um caráter quase de registro —reforçando na medida certa o realismo ao qual se propõe.
Ancorado no tempo ralentado de uma rotina protocolar —em ritmo que comumente se associa ao cinema europeu—, o longa empresta a sua tônica documental das obras anteriores do diretor. Responsável pelos documentários “Hitchcock/Truffaut” (2015) e “Uma Carta Para Elia” (2010, em codireção com Scorsese), mas estreante na ficção, Kent Jones, 54, explora o novo terreno com a coragem de quem se aventura pela primeira vez.
Conhecedor ímpar do cinema americano e diretor do New York Film Festival —um dos mais renomados do país—, Jones poderia se acomodar no prestígio da posição ou temer a repercussão negativa de um eventual fracasso.
Entre acertos e erros de quem topa se arriscar —deslizando justamente ao quebrar a fluidez narrativa com breves e exagerados devaneios visuais—, “A Vida de Diane” aparece como agradável surpresa de uma face pouco difundida do cinema americano: distante dos holofotes e do glamour, mas próximo da boa tradição de contar histórias.
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