'Thelma & Louise' francês brinca com 'empoderamento'
Comédia ácida, 'Mulheres Armadas, Homens na Lata' trata de rebeldia, revolta e desobediência
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Thelma e Louise saltaram o abismo e ressurgem como trio. Podemos simplificar assim a proposta de “Mulheres Armadas, Homens na Lata”. O rocambolesco título brasileiro é só uma “tradução” ruim do original “Rebelles” (Rebeldes), mais enxuto e direto ao ponto. Pois é de rebeldia, de revolta e de desobediência que esta comédia ácida trata.
A sátira, muito bem executada pelo diretor Allan Mauduit, arranca a palavra de ordem “empoderamento” de suas representações até agora comportadas e brinca com a ausência de limites. Seu alvo é o público feminino, mas o tanto que valoriza a insurreição dá ao filme um alcance político maior.
O trio é composto por Nadine e Marilyn, operárias numa fábrica de atum enlatado, e Sandra, ex-miss local 2005 que arruma um emprego ali, depois de gastar sua beleza como manequim ou dançarina de boate. Duas imagens contrastadas de mulher, a feia e a bonita, se reúnem no mesmo espaço como exemplos da exploração.
A roliça Yollande Moreau, a espevitada Audrey Lamy e a sereia Cécile de France assumem os papeis do Carlitos de “Tempos Modernos” em uma versão atualizada da dura vida operária.
Lá, Carlitos era condenado a apertar parafusos. Aqui, as protagonistas selecionam atuns em meio à longa fila de proletárias. Na saída do trabalho, todas são revistadas por uma patrulha que reprime as que tentam roubar comida.
O realismo social tão presente no cinema francês adquire desse modo outra carga crítica, quando o potencial anárquico do humor ativa a bomba que implode a ordem.
Os homens, obviamente, ocupam os lugares de poder, são todos abusadores, exploradores, pilantras e assassinos. Estão reduzidos à caricatura, claro, mas o humor funciona assim.
As peripécias cômicas são escrachadas ou mesmo escatológicas e esta grosseria às vezes explode na cara, como nos antigos pastelões, produzindo mais de um efeito inusitado.
As gags são em grande parte físicas, o que permite às ótimas Moreau e Lamy alternarem máscaras e gestuais extravagantes e intensificarem o ritmo da graça.
Inofensivo na aparência, agressivo na medida certa, “Mulheres Armadas, Homens na Lata” não nos salva da tragédia, mas libera a risada.
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