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Cinema

'Meu Bebê' não resolve os impasses, mas tem cenas que impressionam

Maior dificuldade da protagonista é coordenar próprio desejo de juventude com obrigação de criar os filhos

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Meu Bebê

  • Quando Estreia nesta quinta (1º)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Sandrine Kiberlain, Thaïs Alessandrin, Victor Belmondo
  • Produção França/Bélgica, 2019
  • Direção Lisa Azuelos

Com as múltiplas escolhas que devem ser feitas num filme de longa-metragem, o mais difícil é encontrar o tom certo para o que se quer dizer, a forma adequada para determinado conteúdo. Algo a mais, ou a menos, e o efeito pretendido pode não ser alcançado.

Em "Meu Bebê", de Lisa Azuelos, Sandrine Kiberlain interpreta Héloïse, mãe de duas garotas e um rapaz. Sua maior dificuldade é coordenar seu próprio desejo de juventude com a obrigação de criar os filhos de uma maneira responsável.

E a maior dificuldade do filme é justamente encontrar o tom certo na interpretação dessa atriz emblema do cinema francês nos últimos 25 anos. Ela por vezes tem uma atuação exagerada, perceptível principalmente nos momentos em que fala sozinha, na rua ou em casa, após as filhas terem saído.

É um procedimento que não funciona provavelmente porque o tom certo não foi alcançado. Entre o sóbrio e o lamentoso, optou-se pelo exagero, na tentativa de alcançar algum efeito cômico, seja no choro ou na zombaria.

Entende-se que é difícil mudar assim bruscamente a caracterização da personagem, alternando os registros para melhor alcançar o coração e a mente do espectador. É para poucos cineastas. Na França, Jacques Doillon, François Truffaut e Chantal Akerman eram muito hábeis nessa alternância. Lisa Azuelos, infelizmente, não consegue realizá-la plenamente.

Mas o filme tem alguns achados que salvam o conjunto. A citação explícita de "O Desprezo", obra-prima de Godard, com a filha mais nova de Héloïse, Jade (Thaïs Alessandrin), no lugar de Brigitte Bardot e o namorado que a desvirginou no lugar de Michel Piccoli, é muito bonita, provavelmente a melhor do filme.

Outro momento de graça é quando Héloïse descobre que seus filhos instalaram um aplicativo no celular para revelar sempre sua localização. As reações dela e dos filhos nessa hora compõem um raro momento em que o naturalismo ultrapassa a representação funcional do drama e encontra sua perfeita tradução no filme.

E se Sandrine Kiberlain sofre com o exagero no tom, é preciso dizer que todos os filhos, nos dois tempos que o filme adota, estão ótimos. As duas Jades, a de 17 anos e a de cinco (Mila Ayache) proporcionam momentos de brilho.

Por fim, temos a questão das idas e vindas no tempo. A opção é motivada pelas lembranças de Héloïse conforme sua filha mais nova está prestes a começar estudos no Canadá. Mas ela só lembra de Jade quando bebê ou na faixa dos cinco anos. Nunca aos doze, ou aos quinze.

Essa limitação das recordações pode funcionar em alguns filmes em que os acontecimentos do passado impulsionam a trama. Em "Meu Bebê", como as cenas do passado são motivadas unicamente pelos gatilhos da memória humana, as lembranças parecem postiças, mal articuladas na construção narrativa.

A necessidade de contornar esses problemas torna a direção mais complicada. Lisa Azuelos não resolve bem todos os impasses, mas consegue realizar algumas cenas que impressionam e fazem com que o filme mereça uma chance.

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