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Cinema

Em documentário, neto narra história de sua avó judia

Como diversos sobreviventes do Holocausto, Tsé não compartilhou relatos destes anos traumáticos com os filhos

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Neusa Barbosa

Tsé

Avaliação: Bom
  • Quando: Estreia na quinta (12)
  • Produção: Brasil, 2018
  • Direção: Fábio Kow

Os episódios impressionantes da vida da protagonista deste documentário —como ter sido jogada pela mãe de um trem, que as levava ao campo de extermínio de Sobibór, aos 13 anos; enfrentar um homem que a seguia, determinado a entregá-la aos nazistas; adotar o nome de outra garota, que morava na mesma região, correndo o risco constante de ser desmascarada— são valorizados numa narrativa que se apoia no inegável carisma desta senhora simples e franca, avó do diretor do filme.

Ela foi Sura, Rushkale, Tsecha e, finalmente, Estera Szpigel quando veio morar no Brasil, em 1949, casada com Zeide, ex-soldado, com quem perambulara por três anos na Europa, além da filha bebê, à espera de autorização para emigrar. Ao longo da vida, ela trocou sucessivamente estes nomes como uma nova pele, buscando uma sobrevivência sempre elusiva, na esteira do turbilhão da Segunda Guerra Mundial.

Como diversos sobreviventes do Holocausto, Tsé —seu apelido familiar— não compartilhou relatos destes anos traumáticos com os filhos. Foi para os netos e bisnetos que ela encontrou palavras para reatar o fio das memórias que havia deixado por um caminho acidentado, que começou em Pulawy, Polônia, em 1929.

Lá ela nasceu, chamada Sura Racca, filha mais velha dos judeus Chana e Jakob Rapaport, este um pai comunista, que escondia seus livros em buracos nas paredes. 1939 trouxe a Segunda Guerra Mundial, a invasão da Polônia pelos nazistas e a primeira fuga da família, que incluía também o irmão, Icchok.

Recorrendo a filmes familiares, imagens de arquivo e entrevistas com vários parentes, o documentário traça o itinerário de uma existência cheia de sobressaltos, que define a pessoa que surge diante de nossos olhos como absolutamente comum, sem nenhuma pretensão a heroína, o que é talvez a marca mais nítida do filme, que procura o intimismo mas não descuida de estabelecer suas conexões com a história. 

Como já nos ensinou tantas vezes o mestre do documentário nacional, Eduardo Coutinho (1933-2014), nada mais fascinante do que o ser humano capaz de expressar em palavras a própria experiência singular.

Por isso, a assombrosa história desta mulher brilha mais quando ela mesma a conta e não através dos relatos em segunda mão dos descendentes  —um recurso talvez inevitável para dar conta de uma gama de acontecimentos tão extensa, mas que rompe momentaneamente o encanto que Tsé foi capaz de lançar. 

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