Siga a folha

Descrição de chapéu
Filmes

Adam Sandler mostra talento dramático e carisma em 'Joias Brutas'

Ator é responsável por trazer humanidade ao protagonista, dos irmãos Safdie, queridinhos dos cinéfilos

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Joias Brutas

Avaliação: Ótimo
  • Quando: Estreia nesta sexta (31), na Netflix
  • Elenco: Adam Sandler, Julia Fox e Kevin Garnett
  • Produção: EUA, 2019
  • Direção: Benny Safdie e Josh Safdie

Adam Sandler teve tantos papéis ruins ao longo da carreira que até hoje é difícil saber os reais limites do seu talento (ou da falta dele) como ator. 

Em 2002, por exemplo, quando era tido como um caso perdido, trouxe uma performance inesperadamente boa em “Embriagado de Amor”, de Paul Thomas Anderson.

Infelizmente, o ator logo voltaria ao humor pelo qual se celebrizou, em comédias tolas e vulgares. Mas os diretores Josh Safdie e Benny Safdie parecem se lembrar muito bem do quanto Sandler pode ser surpreendente com um material mais elaborado.

Tanto é que resolveram bancar o risco e o chamaram para protagonizar o filme “Joias Brutas”, que estreia agora no país pela Netflix.

Aliás, “Embriagado de Amor” deve ter mesmo se cristalizado na memória dos Safdie, porque os dois longas guardam notáveis semelhanças, que vão muito além da presença de Adam Sandler. 

Ambos trazem personagens parecidos —são filmes sobre um homem sem o menor controle sobre o que acontece com ele e que hesita o tempo todo entre a sua faceta mais afável, até meiga, e a outra mais sombria, imprevisível.

Há também certa rima visual —entre as cores e luzes do cristal de “Joias Brutas” e as dos créditos finais de “Embriagado de Amor”—, mas o principal ponto de contato está mesmo no espírito —são dois filmes altamente angustiantes. O nonsense está sempre à espreita, por mais palpáveis que as situações pareçam. São duas experiências essencialmente aflitivas.

Mas os Safdie seguem um caminho bastante próprio, e talvez isso explique o hype atual em torno dos cineastas. Se há até poucos anos os Dardenne, os Coen e os Farrelly se revezavam como os irmãos diretores queridinhos da cinefilia, desde “Bom Comportamento”, de 2017, os Safdie usurparam esse status.

O cinema deles pode até ter menos substância do que os admiradores mais exaltados tendem a detectar ali, mas há uma magnífica originalidade no modo como a dupla articula elementos díspares em seus filmes —a natureza e o artifício, o banal e o grave, o cômico e o melancólico. E suas narrativas são prodigiosas em ritmo. É cinema feito com verve.

A câmera irrequieta acompanha Howard, personagem de Sandler, um joalheiro que sonha fazer fortuna em apostas esportivas. É uma figuraça, que depende muito da própria lábia para continuar trabalhando no mercado. Quando ele importa da África uma exuberante pedra preciosa encravada em uma rocha, tenta vendê-la a um ídolo do basquete.

Mas contratempos de toda sorte começam a surgir e Howard se mostra sempre incapaz de resolver qualquer um deles a contento.

No filme, elementos estéticos dissonantes se vinculam aos quiprocós do protagonista de forma a gerar uma grande —e proposital— desorientação no público. Os Safdie usam procedimentos curiosos, por exemplo, a expressiva música eletrônica que muitas vezes tenta levar o espectador a sensações incoerentes com o que a situação dramática exige. 

É como se o roteiro puxasse quem assiste ao filme por uma mão, e o estilo, pela outra, em sentidos não necessariamente opostos, mas distintos. E toques de absurdo, estéticos ou de trama, só acirram esse desnorteamento. O melhor a fazer é se deixar levar pelo longa, sem resistir, isto é, jogar o jogo dos Safdie.

Há notório afeto dos diretores pelo protagonista e por sua salada mental, e talvez por isso Howard, apesar de seus deslizes, nunca se torne um personagem repulsivo —é, no máximo, reprovável.

Mas o filme deve muitíssimo a Sandler, que traz tanta humanidade ao personagem que se torna impossível deixar de torcer por ele. O que só reforça que, se Sandler se tornou um astro tão grande por filmes tão ruins, não foi à toa —carisma ele tem.

Mas e talento dramático, afinal? A julgar por “Joias Brutas”, sem dúvida que sim, embora ele próprio talvez desconheça isso —muitas vezes, parece buscar um estilo de atuação que não é naturalmente dele (fala e se move como se imitasse o Al Pacino dos anos 1970, sobretudo em “Um Dia de Cão”).

Mas Sandler tem uma qualidade gauche inata que é essencial para o personagem. É uma atuação não controlada por completo, mas reluzente. Talvez ele, por fim, seja a joia bruta da qual o filme fala.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas