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Os maiores esnobados pelo Oscar, de Adam Sandler a Jennifer Lopez

Entram na lista: mulheres diretoras, Lupita Nyong'o, Eddie Murphy e pessoas não brancas

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The Washington Post

Vivemos um momento raro: 2020 é o ano em que Adam Sandler e Jennifer Lopez não receberam indicações ao Oscar e foram vistos como esnobados.

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou suas indicações na segunda-feira, e elas incluíram poucas surpresas e muitas omissões. Previsivelmente, “Coringa”, “O Irlandês”, “Era Uma Vez... em Hollywood” e “1917” receberam o maior número de indicações. Mas outros filmes, entre os quais “Um Lindo Dia na Vizinhança”, “The Farewell”, e “Joias Brutas” não receberam muita atenção da academia.

Com tantos candidatos que pareciam estar a caminho de indicações completamente excluídos, vamos listar algumas das omissões mais gritantes.
 

Mulheres diretoras

Depois de anunciar as indicações para melhor diretor, Issa Rae brincou dizendo “congratulações a esses homens todos”, em uma menção a Natalie Portman quando ela apresentou os “indicados, todos homens”, ao Globo de Ouro, dois anos atrás.

Quatro nomes já estavam mais ou menos cimentados antes do anúncio na manhã de segunda-feira: Martin Scorsese por “O Irlandês”, Quentin Tarantino por “Era Uma Vez... em Hollywood”, Bong Joon-ho por “Parasita” e Sam Mendes por “1917”. Muita gente esperava que Greta Gerwig, indicada ao Oscar de melhor diretora dois anos atrás por seu filme de estreia atrás das câmeras, “Lady Bird – A Hora de Voar”, voltasse a constar da lista por sua adaptação de “Mulherzinhas”, muito elogiada pela crítica. Mas a quinta indicação foi para Todd Phillips, cujo enorme sucesso de bilheteria “Coringa” obteve o maior número de indicações ainda que seja um dos filmes mais divisivos do ano.

Não havia muitas mulheres que tivessem chance nessa categoria, embora valha destacar que Marielle Heller, que realizou dois filmes dignos de Oscar, com “Um Belo Dia na Vizinhança”, nesta temporada, e “Poderia Me Perdoar?”, no ano passado, foi esnobada nas duas ocasiões. Tom Hanks, indicado para um Oscar de melhor ator coadjuvante por seu papel como Mister Rogers no primeiro destes filmes, disse ao The New York Times que queria trabalhar com Heller depois de ler uma reportagem que o inspirou a querer trabalhar mais com cineastas mulheres e depois de assistir a “O Diário de uma Adolescente”, o primeiro filme dela.
 

Jennifer Lopez como melhor atriz coadjuvante

J-Lo tinha alguma chance real de conquistar um Oscar? Bem, provavelmente não. Mas isso não impediu que a máquina da fofoca entrasse em funcionamento com toda intensidade para promover seu cativante papel como Ramona em “As Golpistas”. Ela é líder de um grupo de strippers que começa a drogar clientes ricos e roubar seus cartões de crédito. (A cena de “pole dancing” de Lopez se tornou uma lenda instantânea, e provavelmente levou muitos espectadores do filme a procurar sua idade no Google. Ela tem 50 anos, para os interessados.) No entanto, a despeito de ter sido indicada a um Globo de Ouro e a um Critics’ Choice Award, ela não conquistou uma indicação da Academia —e o resultado parecia claro quando os rumores sobre outras atrizes foram ganhando intensidade ao longo da temporada. Ainda assim, muita gente ficou zangada. Mas valeu o esforço, J-Lo!

 

Eddie Murphy e Adam Sandler como melhor ator

No ano passado, dois ícones da comédia —os dois com históricos de realizar filmes destroçados pela crítica— tiveram desempenhos dignos de um Oscar. E foram totalmente esnobados pelos votantes da Academia.

Eddie Murphy estava literal e metaforicamente dormindo no sofá, nos últimos anos, mas decidiu voltar à ribalta para o que designou como “fechamento" de sua carreira. “Não quero ficar sentado no sofá depois de ‘Mr. Church’”, ele disse ao The New York Times, mencionando um drama que rodou em 2016. E, embora ele tenha sido indicado ao Globo de Ouro como melhor ator por “Meu Nome é Dolemite”, no qual interpreta Rudy Ray Moore, um ator de filmes de “blaxploitation” nos anos 1970, a Academia o ignorou.

Sandler, que já havia oferecido desempenhos nuançados em “Embriagado de Amor” e “Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe”, brincou que, se não fosse indicado para prêmios por “Joias Brutas”, voltaria a fazer filmes horríveis “de propósito, para me vingar de vocês todos”. E isso deve mesmo acontecer.
 

'The Farewell' e a estrela Awkwafina


Ainda que os prêmios dos profissionais do setor tendam a ser melhores do que o Globo de Ouro como indicadores para prever o Oscar, ainda assim vale a pena apontar que Awkwafina, premiada com o Globo de Ouro em sua categoria pelo seu desempenho em “The Farewell”, foi esnobada na indicação para o prêmio de melhor atriz no Oscar. Como Billi, uma mulher americana que viaja à China para se despedir da avó doente, Awkwafina deixou para trás suas raízes na comédia e tentou um papel dramático —com sucesso, segundo a crítica.

“The Farewell” obteve diversas indicações nas categorias de atuação, roteiro e melhor filme, em outras premiações, mas foi desconsiderado nas indicações para o Oscar. A roteirista e diretora Lulu Wang tinha uma boa chance de obter uma indicação pelo roteiro original, e Shuzhen Zhao, que interpreta a avó de Billi, teve seu trabalho reconhecido por uma série de prêmios da crítica. Mas na categoria de atriz coadjuvante, dominada por Laura Dern, as chances de Zhao de chegar ao Oscar eram ínfimas.

Lupita Nyong’o em 'Nós'

Filmes de terror enfrentam dificuldades notórias no Oscar, mas era difícil deixar de pensar no papel duplo que Nyong’o interpretou no terror psicológico “Nós”, que incluía um retrato perturbador de sua réplica malévola. No entanto, embora muitos críticos considerassem que Nyong’o merecia a indicação em companhia das favoritas Scarlett Johansson (“História de um Casamento”) e Renée Zellweger (“Judy – Muito Além do Arco-Íris”), infelizmente não foi uma grande surpresa que ela tenha ficado fora da lista —embora o fato tenha irritado muitos fãs, porque Johansson recebeu duas indicações, a outra, como atriz coadjuvante, por “Jojo Rabbit”.
 

Pessoas não brancas, de modo geral

As indicações ao Oscar foram menos desprovidas de diversidade do que as indicações ao Bafta na semana passada, que geraram protestos por não incluírem nem ao menos um ator não branco. Mas as pessoas não brancas continuam ser uma ínfima minoria entre os indicados ao Oscar este ano.

Uma das omissões mais gritantes —excetuadas Awkwafina e J-Lo— foi a Academia não ter indicado Ruth Carter pelo guarda-roupa de “Meu Nome É Dolemite”. Carter fez história no ano passado ao conquistar o prêmio mais prestigioso de sua profissão para “Pantera Negra”. (Spike Lee, com quem ela colabora há muito tempo, não deve estar nada contente.)

As categorias de melhor ator e melhor ator coadjuvante são dominadas por homens brancos. Na categoria de melhor atriz, a atriz britânica Cynthia Erivo foi indicada por sua interpretação um tanto controversa de Harriet Tubman, em uma cinebiografia muito aguardada. Mas a indicação de Erivo sublinha a ideia de que atores não brancos só são indicados por determinados tipos de papel. (Jadakiss apontou o fato em 2004, lembra?) Nyong’o, cujo diabólico papel duplo ficou de fora da disputa este ano, conquistou um Oscar em 2014 ao interpretar uma escrava em “12 Anos de Escravidão”, de Steve McQueen.

“Vocês adoram mulheres negras desde que elas interpretem escravas, aqui em Hollywood”, comentou alguém na mídia social na segunda-feira, apontando para o fato de que Nyong’o interpretou dois papéis no mesmo filme.

A Academia poderia ter surpreendido os espectadores com escolhas mais ousadas – o polarizador drama romântico “Queen and Slim” ou o trabalho de Jamie Foxx em “Luta por Justiça”, que lhe valeu um prêmio SAG, por exemplo. Mas isso parece ser pedir demais a uma cerimônia que no ano passado deu seu maior prêmio a “Green Book – O Guia”.
 

Alguns bons homens

Teria sido um choque se Joaquin Phoenix, Adam Driver e Leonardo DiCaprio não fossem indicados por seus desempenhos em “Coringa”, “História de um Casamento” e “Era Uma Vez... em Hollywood”, respectivamente, o que tornava a escolha para os dois últimos indicados como melhor ator ainda mais interessante. Antonio Banderas vinha sendo mencionado com frequência, por seu papel em “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, um filme espanhol indicado para o Oscar de melhor longa estrangeiro. Jonathan Pryce, de “Dois Papas”, também era uma aposta firme, e ele terminou indicado, em companhia do roteirista Anthony McCarten e de Anthony Hopkins, este como ator coadjuvante.

Dois atores famosos indicados para outros prêmios terminaram ignorados pela Academia: Robert De Niro por “O Irlandês”, o drama criminal de Martin Scorsese, e Christian Bale, que interpreta um piloto de corrida em “Ford vs. Ferrari”, de James Mangold, um filme que conquistou diversas indicações nas categorias técnicas. Taron Egerton, que fez campanha vigorosamente para promover seu desempenho como Elton John em “Rocketman”, ganhou um Globo de Ouro, mas infelizmente não disputará o Oscar.
 

Documentário: 'Apollo 11'

A categoria de melhor documentário de longa-metragem viu a indicação de “Indústria Americana”, como era previsto. O documentário da Netflix é uma produção da companhia do casal Obama. Já o documentário que era visto como favorito para vencer, “Apollo 11”, foi ignorado. Todd Douglas Miller usou imagens de arquivo, incluindo imagens nunca vistas pelo público, para mostrar a missão da Apollo 11 à Lua. O filme faturou muito bem para um documentário, com US$ 15 milhões nas bilheterias mundiais, e venceu o grande prêmio do júri do festival Sundance para documentários.

Mas essa categoria pode ser complicada. No ano passado, “Won’t You Be My Neighbor?” era visto como favorito. O documentário muito elogiado pela crítica sobre Fred Rogers faturou US$ 22 milhões nas bilheterias, o maior faturamento de um documentário em 2018, demonstrando que o público continua interessado em histórias positivas, sobre pessoas reais que são realmente bondosas. No entanto, o filme chocantemente não foi indicado ao Oscar.
 

Fornecedor de melodia grudenta: 'Frozen 2'

A continuação de um filme muito amado da Disney, premiado com o Oscar em 2013, sobre uma princesa que tenta reencontrar sua irmã, uma menina com o poder de controlar cristais de gelo, recebeu críticas contraditórias mas a expectativa era vê-lo entre os indicados a melhor animação, em companhia de produções independentes e “Toy Story 4”, da Pixar. No entanto, “Frozen 2” só foi indicado para a categoria de melhor canção original (com “Into the Unknown”). Não é pouco, se considerarmos que Beyoncé não recebeu indicação por “Spirit”, uma composição inspiradora e com jeito de gospel para a trilha de “O Rei Leão”.
 

Beyoncé

A academia quer transformar os fãs de Beyoncé em inimigos? A Beyhive certamente não ficou contente por ver a balada que ela compôs para a nova versão de “O Rei Leão” excluída da lista para o Oscar de melhor canção. Ela teria encarado concorrência difícil, contra “(I’m Gonna) Love Me Again”, de Elton John, de “Rocketman”, e “Stand Up”, de Cynthia Erivo, de “Harriet”. Ainda assim, surpreende que a força do estrelato de Beyoncé não tenha bastado para derrubar da lista pelo menos “I Can’t Let You Throw Yourself Away”, de “Toy Story 4”.
 

'Um Belo Dia na Vizinhança'

Um filme sobre o herói dos Estados Unidos, Mister Rogers, interpretado por um ator americano que é mesmo um bom sujeito, Tom Hanks, parece feito sob medida para atrair o interesse da Academia, certo? Errado. O niilista e sombrio “Coringa” obteve 11 indicações, e o filme de Marielle Heller filme sobre um jornalista cínico que faz amizade com o muito querido apresentador de programas infantis foi indicado para apenas um prêmio. “Um Belo Dia na Vizinhança” é uma narrativa positiva mas bem centrada que mostra transformação e como encarar os demônios pessoais de maneira saudável (ou seja, o contrário de “Coringa”.) Poderíamos dizer que a masculinidade não tóxica foi esnobada.
 

Tradução de Paulo Migliacci

Elahe Izadi , Sonia Rao , Bethonie Butler e Emily Yahr
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