Siga a folha

Descrição de chapéu
Cinema

'Açúcar' explora tensão entre aristocracia e trabalhadores

Protagonista, interpretada por Maeve Jinkings, é quase uma caricatura do autoritarismo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Açúcar

Avaliação: Bom
  • Elenco: Maeve Jinkings, José Maria Alves, Dandara de Morais e Magali Biff
  • Produção: Brasil, 2017
  • Direção: Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira

Um barco movido a vela corta a vegetação —não existe água por ali. A embarcação desliza sobre uma ampla superfície verde da zona da mata de Pernambuco. 

Esse barco leva Bethânia (Maeve Jinkings) de volta às terras dominadas por canaviais, onde viveram muitas gerações da sua família.

Há grande beleza nesse arranjo insólito que abre “Açúcar”, filme dirigido por Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira. 

Essa introdução insinua o que virá pela frente, entre trunfos e deficiências. 

De um lado, um notável apuro visual a serviço de uma trama que concilia o universo fantástico e o realismo da vida rural nordestina. Do outro, personagens um passo aquém da potência que poderiam revelar. 

Como Maria Bethânia, a cantora, a personagem de “Açúcar” foi assim batizada sob inspiração da bonita canção de Capiba: “Maria Bethânia/ Tu és para mim /A senhora de engenho”. 

Ao voltar para a antiga propriedade familiar, ela se vê ainda ligada a um passado de esplendor econômico. Mas essa ilusão é tão frágil quanto as pequenas esculturas que Bethânia cultua.

Em contraste com os delírios dela, trabalhadores da região são recompensados pelo pragmatismo. Aumentam seus ganhos ao substituir os canaviais pelo cultivo de flores raras e pelo turismo. 

Não é a primeira vez que o cinema brasileiro explora essa tensão entre a aristocracia enferrujada e os descendentes de escravos que buscam atividades econômicas que lhes ofereça alguma autonomia.

O salto que “Açúcar” dá é envolver essas desavenças numa atmosfera de suspense. A presença ostensiva do mistério, muitas vezes associado à espiritualidade, acrescenta novas camadas de leitura. Além disso, a adesão ao sobrenatural impõe novos ritmos ao filme.

Nota-se, no entanto, um descuido na construção da personagem principal. E não é por incapacidade de Jinkings, uma atriz de muitos recursos, como se viu em filmes como “O Som ao Redor” (2013) e “Boi Neon” (2015). 

O roteiro expõe Bethânia diversas vezes como a opressora senhora de engenho, uma figura esquemática, quase uma caricatura do autoritarismo. Quando ela surge menos óbvia, o filme se fortalece.

Essa não é, porém, uma limitação que nos impeça de ver “Açúcar” com atenção e curiosidade. O passado colonial mantém marcas profundas no Brasil contemporâneo, e essa memória em cores vivas é suficiente para que o filme seja admirado. 
 

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas