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Artes Cênicas

Peça com Camila Pitanga tem cenas fascinantes, mas com críticas fracas

Roteiro de 'Por que Não Vivemos?' se distancia da acidez do russo Tchekhov

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Por que Não Vivemos?

Avaliação: Bom
  • Quando: Sex. e sáb., às 20h, e dom., às 19h. Reestreia em 20/3. Até 19/4
  • Onde: Teatro Cacilda Becker, r. Tito, 295, Lapa, São Paulo
  • Preço: R$ 30
  • Classificação: 16 anos

Anton Tchekhov escreveu com 18 anos a peça que deixou sem título e é comumente nomeada “Platonov”. A obra foi engavetada pelo autor e só tornada pública depois de sua morte.

É um texto de juventude que não possui a precisão sintética de suas principais peças como “A Gaivota” ou “O Jardim das Cerejeiras”. Por outro lado, ali já fica nítido o desprezo que Tchekhov sentia pelos seres parasitários de uma decadente elite rural russa ou pela nova classe proprietária que começa a tomar o seu lugar.

A montagem da Cia. Brasileira de Teatro faz com que aquele universo aparentemente tão russo se transforme no Brasil. No cenário do primeiro ato, uma grande mesa ocupa o centro do palco e está repleta de garrafas de vinho nacional e plantas tropicais. O elenco veste figurinos praianos, Anna Petrovna (Camila Pitanga) entra em cena com uma raquete de frescobol.

A aproximação é um acerto. As personagens patéticas, petulantes e destrutivas da peça se parecem demais com tipos com que cruzamos todos os dias por aqui. Não é preciso adaptar muito o texto. As palavras do autor russo cabem perfeitamente na boca de certa elite local, incapaz de perceber o mundo que a rodeia, vivendo uma vida delirante e envolvida por filosofia barata.

Ao mesmo tempo, é difícil entender qual o ângulo e a perspectiva sobre aquilo tudo que a montagem dirigida por Marcio Abreu propõe. O grupo parece querer trabalhar no limite entre a crítica e a comoção para com aquelas personagens. Há ridicularização, mas também simpatia por elas. Poderia ser uma abordagem dialética, mas o que parece é uma dificuldade dos artistas em lidar com o material e encontrar um ponto claro de discurso a partir do texto.

Para preencher essas lacunas de sentido, o diretor bota em ação uma série de artifícios de cena: loopings de repetição, adereços inusitados, cenas no meio da plateia, telas gigantes de projeção. É uma encenação inventiva que causa fascínio –algo que se tornou uma assinatura do encenador Marcio Abreu.

Mas aqui, como fogos de artifício, são efeitos que explodem em força cênica e logo desaparecem sem deixar vestígio crítico ou construção de sentido.

Parecem ser escolhas mais interessadas no efeito do que no conjunto. Como, por exemplo, a apoteose que fecha o primeiro ato da peça e convoca o público para dançar uma canção de Rihanna. Apesar da espantosa voz de Josi Lopes e do frenesi que a cena causa, a explosão pop no meio do ambiente ruinoso é, no mínimo, indecifrável.

Ao mesmo tempo em que parecem querer criticar a veleidade daqueles seres, a festiva estrutura teatral e a comoção pela melancolia das personagens, reproduz e endossa o mundo descrito com sarcasmo por Tchekhov.

Já na escolha do título –“Por que Não Vivemos?”– vemos certa empatia com o destino das personagens e uma vontade de superar junto com elas a inação que as paralisa.

Em síntese, a adaptação de “Platonov” se aproxima mais do idealismo de Treplev, o triste e confuso personagem de “A Gaivota” que acredita ser um artista vanguardista incompreendido, do que da acidez crítica de Tchekhov.

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