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Série sobre máfia italiana acerta ao não opor mocinhos a bandidos

'Zerozerozero', inspirada em livro de Roberto Saviano, acompanha rota internacional da cocaína

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Neusa Barbosa

Zerozerozero

Avaliação: Ótimo
  • Onde: Disponível na Amazon Prime Video
  • Produção: Itália, 2019
  • Direção: Stefano Sollima, Janus Metz e Pablo Trapero

O escritor e jornalista italiano Roberto Saviano não só escreve sobre o perigo —é o seu modo de vida. Tudo começou há 14 anos, quando publicou “Gomorra”, livro que penetrava nos bastidores da Camorra, a máfia napolitana.

Vendeu 10 milhões de cópias pelo mundo, rendeu um filme (de Matteo Garrone, premiado em Cannes), mas lhe custou uma sentença de morte que o obriga, desde então, a mudar constantemente de endereço e viver cercado de policiais.

Depois, o escritor lançou em 2013 “Zerozerozero”, livro que inspira a recente série homônima da Amazon, mais uma narrativa em torno da máfia —no caso, a calabresa Ndrangheta, que não é a única protagonista de uma história eletrizante em torno de um carregamento de cocaína que percorre três continentes.

Emprestado da culinária, no caso, da denominação da farinha de trigo de primeira qualidade, chamada de “zero zero”, o título “Zerozerozero” remete à pureza da cocaína. E também à garantia de que, em torno dela, se traça uma série de batalhas sangrentas, um verdadeiro safári humano entre a América, a África e a Europa.

Idealizada por Leonardo Fasoli, Mauricio Katz e Stefano Sollima, “Zerozerozero” desdobra, em oito capítulos, os destinos do carregamento, encomendado pelo chefão don Minu, papel de Adriano Chiaramida. Sua intenção é acalmar o apetite de seus comandados jovens pelo seu lugar —o
primeiro deles, seu próprio neto, Stefano, vivido por Giuseppe De Domenico, que tem suas razões para desejar um acerto de contas com o avô.

Outro eixo familiar é construído a partir de Nova Orleans, nos Estados Unidos, sede da empresa Linwood, a intermediária encarregada do transporte da droga sob uma fachada legal. O terceiro núcleo é Monterrey, no México, de onde parte a droga e onde se assiste à ascensão de um novo poder, dos milicianos liderados pelo sargento Manuel León, papel de Harold Torres.

Com tantos deslocamentos e uma profusão imensa de personagens secundários, seria fácil perder o foco ou a energia. Mas os três diretores que dividem os episódios, Stefano Sollima, Janus Metz e Pablo Trapero, mantêm a adrenalina girando, apoiados nas reviravoltas e traições do enredo.

Precisos flashbacks resolvem a complexidade de tantas tramas sobrepostas, o que acrescenta ainda um valor cinematográfico a uma série que não descuida de fotografia.

O comportamento dos personagens também se mantém fiel ao universo realista de Saviano, que funciona aqui como produtor-executivo, evitando o maniqueísmo e, portanto, qualquer sinal da luta do bem contra o mal. Não há heróis por quem torcer, só alguns inocentes colhidos no rastro deste carregamento que não se sabe se chega ou não ao seu destino.

Num universo marcadamente masculino, Andrea Riseborough impressiona pela alta voltagem de sua Emma, a personagem feminina de maior peso na trama, revelando aos poucos uma natureza de aço por trás da figura frágil e do meio sorriso.

Ela se torna páreo duro para qualquer um no duelo quase darwinista que se projeta pela posse da cocaína. Como no faroeste, a dúvida é sobre quem ficará de pé no final.

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