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Cinema

'Malmkrog', com ecos de Renoir e Bergman, é obra máxima de Cristi Puiu

Diretor romeno trata as conversas visualmente e faz a câmera se mover discretamente, buscando interação do espectador

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Malmkrog

Avaliação: Ótimo
  • Quando: Até 4 de novembro
  • Onde: . Exibição na Mostra Play (plataforma online da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)
  • Direção: Cristi Puiu

​"Malmkrog", sexto longa do cineasta romeno Cristi Puiu, é baseado num livro do filósofo russo Vladimir Soloviov. Com três horas e 20 minutos de duração e um texto de alta qualidade, o filme corria o risco de cair no chamado teatro filmado —quando a imagem pouco importa e o cinema fica em segundo plano. Felizmente, não é o que acontece.

Estamos no final do século 19, na luxuosa casa de campo de um aristocrata russo, onde os convidados de um general, que sai da casa no início do filme e jamais volta, conversam sobre guerras, alianças, civilização, etnias, europeus, o bem e o mal, parábolas bíblicas, a morte.

Quem são esses convidados? Nunca sabemos ao certo. São russos, mas falam predominantemente em francês (a língua oficial do cinema autoral?). Não importa de fato quem eles são porque interessa mais ouvirmos os diálogos eruditos e vermos como o diretor resolve a questão da imagem, do específico cinematográfico.

Detalhe de cartaz do filme ‘Malmkrog’, do cineasta romeno Cristi Puiu - Divulgação

O livro de Soloviov tem título imponente —"War, Progress, and the End of History: Three Conversations". Puiu já havia adaptado essas tais três conversações em uma espécie de ensaio para este novo filme, intitulado "Três Exercícios de Interpretação", o seu quarto longa, de 2013.

A continuação dessa busca, num acabamento mais rigoroso, é "Malmkrog", longa dividido em seis capítulos. Cinco são nomeados de acordo com cada personagem que participa dos diálogos, mais um capítulo que recebe o nome de István, chefe dos empregados.

Em dado momento, uma personagem questiona a solidariedade das nações europeias numa possível aliança em futura guerra. Em outro, discutem a pertinência do catolicismo e a crença num Deus bondoso, onisciente. Estamos nos domínios do filósofo Soloviov, um amigo próximo de Dostoiévski.

É no capítulo de István que ouvimos menos diálogos, pois vemos, em sua maior parte, os empregados fazendo o serviço. Um belo momento de respiro que ocupa praticamente 20 minutos dentro da segunda hora do filme.

A maneira como Puiu trata as conversas visualmente, ou seja, o posicionamento da câmera, as divisões das cenas, os tempos de corte e as escolhas entre o que mostrar e o que esconder, mais do que o ótimo texto, é que confere ao filme seu valor.

O diretor parece mais afiado do que nos filmes anteriores, e definitivamente distante da câmera frouxa de "A Morte do Sr. Lazarescu", longa que o revelou internacionalmente.

A câmera se move discretamente em "Malmkrog", com enquadramentos que parecem sonegar algumas reações e situações, nos deixando em temporário suspense. O efeito busca a interação do espectador, que deve completar as cenas com sua imaginação.

Pela curiosa interação entre os burgueses e os empregados, estes por vezes atraindo a câmera, temos algo como "A Regra do Jogo", de Jean Renoir, sem a leveza nem a ironia do mestre francês, mas com uma densidade filosófica e religiosa que lembra alguns dos filmes de Ingmar Bergman. Cristi Puiu atinge assim seu amadurecimento cinematográfico.

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